O que devo saber sobre a minha primeira vez?

Na maioria das casas,  o tema sexo não é abordado. E quando é, por vezes, os únicos focos dados são doença e gravidez, não é verdade? Dialogar sobre o corpo e sexo como algo natural da vida é um desafio em muitas famílias, mas é fundamental conversar, principalmente quando o papo é a primeira transa. 

Começar a transar ainda é um processo com amarras e rende muitas dúvidas.

Ana Paula Penante (pesquisadora sobre direitos sexuais e sexualidades de crianças e adolescente)

Isso é o que acredita Ana Paula Penante, assistente social e pesquisadora sobre direitos sexuais e sexualidades de crianças e adolescentes na Universidade de Brasília (UnB). Medo, regras, culpa e falta de informação tomam conta desse tema, “principalmente porque nós temos uma visão da sexualidade ainda muito restrita ao ato sexual, ao corpo a corpo com outra pessoa”, explica Ana Paula Penante. 

“Sexo é muito mais que penetração”, afirma Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina. A médica chama atenção para se entenda que o corpo humano permite múltiplas possibilidades de conseguir prazer que vão muito além do estímulo de genitais. Carícias, massagens, tantra também são formas de estímulo físico e ainda fantasias,  jogos, comunicação entre parceirxs são formas de obter prazer através da imaginação. Qualquer maneira que você e sua (seu) parceira (o) encontrar de sentir prazer é válida e só diz respeito a vocês. Desde que respeitem os limites um do outro e haja consentimento.

Mitos, cuidados e alertas 

Não existe uma exigência para transar antes ou depois de uma determinada idade, mas é fundamental existir orientação e consciência sobre o que é esse momento de passagem da vida. A hora certa para iniciar é quando você se sentir à vontade e quando você conhecer o seu corpo. 

Sabemos que sempre bate um turbilhão de dúvidas quando o assunto é transar pela primeira vez. Mas reunimos algumas dicas das especialistas Ana Penante e Carolina Ambrogini para ajudar:

Carolina Ambrogini (ginecologista)
  • Entender sobre o funcionamento do seu corpo é super importante. Isso faz você ficar mais certa das suas escolhas e ajuda a aproveitar melhor a relação sexual. Se masturbar não tira a virgindade, viu? #ficadica
  • Consulte um(a) ginecologista de confiança: essa pessoa vai te ajudar a entender melhor o seu corpo e certificar-se se está tudo bem, antes e depois da primeira vez, em qualquer momento, sério mesmo. 
  • Converse com o/a parceira/o: seja um relacionamento estável ou não, é legal bater um papo sobre o que vocês dois ou duas esperam daquele momento;
  • É essencial pensar na proteção contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Camisinha sempre, viu?
  • Primeira vez pode engravidar, ok?! Em relações heterossexuais, vários casais não se previnem na primeira transa com penetração e acabam tendo uma gravidez inesperada. 
  • Mulher goza também! Sempre buscar estar relaxada, confortável e confiante com a situação. São várias condições físicas e psicológicas durante a relação, com penetração ou não, sozinhas ou não, que farão você chegar ao orgasmo. 
  • Sobre a info que a primeira transa dói: o nível de dor varia de pessoa para pessoa. Às vezes pode nem acontecer de doer, o importante é vocês estarem confortáveis

Não tenha pressa: respeite seu tempo. Esteja à vontade para iniciar sua vida sexual ou para adiar esse início! É muito importante perceber seu corpo e ter consciência de suas escolhas. Você decide.

Tocar e conhecer o próprio corpo

Tocar e conhecer o próprio corpo ainda está no paredão dos tabus. Infelizmente a sensação de culpa e julgamento insistem em perseguir o prazer das mulheres, ainda o machismo constrói a ideia de que nós nos tocarmos  é um problema. Por isso, e outras tretas, que é muito importante se conhecer e compreender que esse corpitcho só tem uma dona: você mesma. 

“Temos tido a oportunidade de falar sobre masturbação, as redes sociais têm abordado e existe uma onda feminista que defende muito o empoderamento feminino, o conhecimento do próprio corpo e a sexualidade, mas as mulheres ainda trazem bloqueios com relação ao próprio corpo”, nos conta Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina. 

Dra. Giani Cezimbra, ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva

O privilégios da liberdade sexual dos homens ainda é muito grande e desrespeita o espaço das garotas, sobretudo o território de seus corpos. A Dra. Giani Cezimbra, também ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva nos conta que “tanto a masturbação feminina, quanto a descoberta do funcionamento do próprio corpo, a capacidade em obter prazer e orgasmo sem a presença de outra pessoa são rodeadas de muitos preconceitos culturais e religiosos”, afirma.

“Masturbação ainda é um tema abordado com muitos pudores”, diz a ginecologista Giani Cezimbra. Ela afirma que “é importante que [as mulheres] conheçam seus corpos e possam vivenciar sua sexualidade de uma forma plena e satisfatória”. 

Não tem jeito: só cuida de si quem se conhece e convenhamos que autoconhecimento é tudo.  Estimular o corpo, sentir prazer e toda essa autonomia é fundamental e possui uma série de benefícios, de acordo com a ginecologista Carolina Ambrogini: 

  • Reduz estresse e ansiedade;
  • Melhora o sono;
  • Pode diminuir cólicas;
  • Aumenta o desempenho sexual;
  • Ajuda a atingir o orgasmo mais facilmente;
  • Queima calorias;
Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina

Mas para isso tudo ser concebido, é essencial se sentir tranquila e à vontade para se tocar. De nada vale se tocar e não sentir prazer. Autoconfiança e coragem tornam-se importantes para realizar esse carinho consigo. Porém, a formulação de fantasias sexuais é fundante. “Se você não pensa em algo erótico, que estímulo você terá para se tocar?”, questiona Carolina Ambrogini. Estamos falando sobre cuidar do físico e da mente. 

Algumas perguntinhas orientadas pela Dra. Carolina Ambrogini para montar seu repertório sexual, tão importantes quanto se tocar:

O que eu gosto sexualmente na cama? 

Quais são minhas fantasias?

Como me sinto excitada? Como é essa busca?

Como meu corpo responde aos meus estímulos?

Como anda minha autoestima?

Converse, tire duvidas, puxe este assunto com suas amigas. É natural, é íntimo e libertador. É sobre você e seu corpo. É sobre se agradar, se sentir amada. Prazer também é isso, para senti-lo com outra pessoa é muito importante essa individualidade. 

E vale mencionar que apesar da indústria pornô muitas vezes ser a principal fonte de “educação sexual” das pessoas e estar relacionada a masturbação, lembre-se que esse mercado muitas vezes reforça estereótipos da mulher a serviço do sexismo… e não é sobre isso que estamos falando, beleza? Fique atenta.

“Mulher empoderada e autoconfiante não aceita violências e imposições sociais baseadas em crenças negativas e nocivas. Sua decisão é baseada no que ela acredita que seja melhor para ela mesma”, conta a ginecologista Giani Cezimbra. Se toquem, pratiquem amor próprio. Prazer é fundamental e também está em suas mãos.

Qual é a idade certa para perder a virgindade?

A hora certa para iniciar a vida sexual é quando você se sentir à vontade. E quando você conhecer o seu corpo!

A gente sabe que sempre bate um turbilhão de dúvidas quando o assunto é transar pela primeira vez. Mas a gente tá aqui pra ajudar! Se ligue nas dicas =)

#Dica 1: Consulte um ginecologista: esse é o profissional que vai te ajudar a entender melhor o seu corpo e certificar-se se está tudo bem. Inclusive, é importante consultá-lo antes da primeira vez!

#Dica 2: Converse com o/a parceira/o: seja um relacionamento estável ou não, é legal bater um papo sobre o que vocês dois ou duas esperam daquele momento.

#Dica 3: Conheça o seu corpo: entender sobre o funcionamento do seu corpo é super importante. Isso faz você ficar mais certa das suas escolhas e ajuda a aproveitar melhor a relação sexual. Vocês conhecem bem como o seu corpo funciona, como se prepara para ter filhos e tudo o mais?  A gente te conta como acontece. #ficadica

#Dica 4: Não tenha pressa: respeite seu tempo. Esteja à vontade para iniciar sua vida sexual! Não precisa ter pressa. É muito importante respeitar seu corpo e suas escolhas

E quando estou num relacionamento estável: o que fazer?

Converse com o/a parceiro/a sobre sexualidade. Mostre mesmo o que você quer (ou não) na hora de perder a virgindade, se já pensa em quando isso irá acontecer e o que você espera. Fale e escute! 

Quando rolar a vontade de transar, esteja certa do que quer e só deixe que aconteça o que você estiver pronta e com vontade para fazer. É muito importante saber sobre como estar segura no sexo, inclusive saber que, sim, na primeira vez você pode engravidar e, caso queira isso, deve estar com a saúde em cima para que tudo ocorra bem.

Leia também: Diálogo e informação, base para um desenvolvimento sexual saudável

Então dá para ficar grávida na primeira vez?

Sabe qual a primeira dica para saber quando o corpo já é capaz de gerar um filho? A menarca! Que nada mais é do que a primeira menstruação e indica que a menina chegou ao período fértil. Depois disso, a gravidez passa a ser possível.  Fique atenta!

É  importante lembrar que o sexo não é apenas para a reprodução. E para ter prazer e não correr riscos,  é legal conhecer seu corpo, saber como funciona o seu aparelho reprodutor.

Na primeira vez, além de poder engravidar, você corre risco de adquirir infecções sexualmente transmissíveis, as IST, como sífilis, gonorreia e HIV.  Usar a camisinha é tipo unir o útil ao agradável: protege contra IST e é um boa forma de não ter filhos. 

Casei virgem: como convidar o/a parceiro/a a conhecer o meu corpo?

Pergunte a ele/a o que curte fazer. Tente ficar tranquila para conhecer seu próprio corpo sozinha também. Ah, e nunca esqueça dos métodos preventivos e contraceptivos, hein  =)

A vontade de agradar o outro provavelmente será grande. E tudo bem! Mas também se não esqueça que é importante que você também se satisfaça: o corpo é seu!

Vale a leitura: Os mitos sobre métodos contraceptivos e como evitar uma gravidez

Virei mãe na primeira transa. E agora como fica o sexo?

Então você decidiu transar a primeira vez e…aconteceu que ficou grávida! Se foi algo que planejou, ótimo! Se não for, tudo pode ficar bem quando você encontra sua rede de apoio, conhece o próprio corpo e vontades. 

Uma mulher que vira mãe ainda é uma mulher, com vontades e desejos, inclusive os sexuais. Cuidar da própria saúde e sexualidade é um ato de autocuidado e prevenção.

Ir às consultas de rotina na ginecologista é muito importante: é aí que você vai verificar se tem algo errado com seu corpo. Ir até a ginecologista não deve acontecer só quando você sente algo de errado. Isso ajuda a ter uma vida mais saudável.

Isso vai ajudar, inclusive, na vida sexual, já que há uma mudança hormonal muito grande. A vontade sexual pode mudar e, se você não se conhecer o suficiente, pode ficar mais complicado de entender.

Vale aquela leitura esperta nessa entrevista com um monte de informações que contemplam desde a primeira menstruação até a fase da menopausa.

Continue conhecendo seu corpo: a ginecologista vai te ajudar. consultas de rotina durante a gravidez e fazer o pré-natal são cuidados básicos. Com esses cuidados e com consciência do seu próprio corpo fica tudo bem, você vai ver. Tem dúvidas? Siga a gente nas nossas redes sociais. #ElaDecide

A roupa que uma mulher veste pode ser um convite ao sexo?

O assédio sofrido por mulheres nas ruas e nos locais de trabalho é, muitas vezes, associado às roupas que elas usam. Até quando? 

 

O assédio sexual é uma abordagem grosseira, e não consentida, que a mulher pode sofrer nas ruas, na escola, nos transportes públicos, no local de trabalho, nas imediações de casa.  Para reconhecer o assédio é importante pensar primeiramente na conduta do assediador. O assédio: 

  • Coloca a mulher em posição de subordinação, por exemplo, quando o ato ocorre em troca de ‘favores sexuais’, como notas na escola, ou cargos mais altos no trabalho.
  • Expõe a mulher à ridicularização. Isso ocorre, por exemplo, o assediador insulta a mulher ao receber uma negativa às suas investidas.
  • Faz uma ameaça direta à integridade da mulher. Exemplo: ‘caso você não faça o que eu quero, eu vou fazer o que bem entender com você’. 

O que nos leva à pergunta: a conduta do assediador pode ser induzida pela roupa da mulher?

Não. Não importa como a mulher está vestida, ela nunca deve ser assediada. O assédio começa, muitas vezes, com uma agressão verbal, que pode vir a se tornar uma agressão física. Para que a mulher combata esse tipo de conduta, é necessário que ela reconheça quando está em situação de risco para que possa acionar as devidas medidas de proteção. Os recursos mais indicados são o 190, o posto policial mais próximo (caso a mulher esteja na rua), ou mesmo a delegacia para crimes contra a mulher.

Normatizar o vestuário não diz nada sobre a conduta da mulher

A mulher tem o direito de escolher o que quer vestir, sem que isso a exponha ao risco. A roupa é, muitas vezes, considerada o ‘causador’ de tamanho debate pelo fato de a mulher ser vista como provocante, ao escolher determinada peça de roupa no vestuário. No entanto, a objetificação do corpo da mulher brasileira, fala mais diretamente sobre essa relação entre a mulher, a roupa, e os pré-conceitos estabelecidos pela sociedade, do que a vestimenta em si. 

A classificação da mulher pelo seu tipo de roupa leva a diminuição desta à sua imagem externa, e coloca rótulos que carregam pré-conceitos há muito já debatidos, como ‘vai vestir uma roupa decente’, ‘roupa para chamar homem’, ‘isso é roupa de mulher da vida’, ou uma ‘roupa de mulher sem classe’. Todas essas são representações de um machismo enraizado.

 

O rótulo não deve existir: nem na roupa, nem na mulher.

Adequar a roupa à ocasião na qual vai ser usada é algo que a indústria da moda explora há muito tempo – é o chamado ‘dress code’, ou seja, um ‘código’, de como se vestir, em uma determinada situação. 

Mas, mesmo no mundo da moda, esses códigos são revisitados o tempo todo para melhor representar a mulher, o homem e os movimentos sociais, já que a Moda também é responsável por retratar o sentimento das gerações. Assim, não importa se a mulher vai usar vestidos ajustados ao corpo, decotes, saias com fendas: o que define a relação desta mulher com o seu próprio corpo, e em uma relação interpessoal, não o que ela está vestindo.

Quanto mais uma jovem, adolescente ou adulta, conhecer os seus direitos e como lidar com o seu corpo, e com as abordagens em relação ao sexo, mais ela vai desenvolver autonomia e segurança para estabelecer o seu espaço, e também os seus limites nas relações em sociedade. As roupas já têm os seus próprios rótulos, e um maior ou menor pedaço de tecido está muito longe de representar tudo o que uma mulher é por dentro, tampouco é um convite para o assédio. 

Saiba que o vestuário não foi, não é, nunca será um convite formal ao sexo. Quem decide quando, com quem e qual o melhor momento para manter uma relação sexual é você, independente do que você está vestindo. Qualquer conduta que seja contrária ao seu consentimento é assédio, denuncie. Está em suas mãos. #ElaDecide.