Uma vez na internet, as imagens saem do seu controle. “Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia“
Em tempos de pandemia, enquanto não podemos sair para encontrar o crush ou a crush, trocar uns nudes ou fazer umas vídeos chamadas mais sensuais às vezes pode rolar, né, minha filha? O nome dessa prática de compartilhar conteúdos sexuais com outra pessoas pela internet se chama sexting. Mas, é preciso informação e muito cuidado. Não faça nada por pressão, para estar na moda ou porque o ou a crush estão insistindo.
Um nudezinho aqui e outro ali está cada vez mais comum por conta da difusão de tecnologias de comunicação e também tem se tornando um comportamento social. “Muitas pessoas usam nudes como forma de estabelecer contato com possíveis parceiros afetivo ou sexuais, e a linguagem da internet é uma linguagem audiovisual. As pessoas só estão se adaptando a esses formatos”, conta Nealla Machado, pesquisadora sobre sexting e violência contra as mulheres.
Os smartphones possibilitam essa nova maneira de expressar a sexualidade. O “nude selfie” e práticas relacionadas fazem parte dessa nova cultura. Para muitas pessoas essa prática vira até prova de cumplicidade e intimidade com o parceiro ou parceira. Entretanto, é fundamental realizar boas escolhas para evitar arrependimentos e situações de perigo quando pessoas mal intencionadas se aproveitam dessas imagens. Tenha muito cuidado!
Em uma sociedade marcada por desigualdades, muitas mulheres ficam prejudicadas nessa história toda, ameaçadas e até extorquidas, aí o sexting vira um problema. Isto é o que acredita Cybelle Oliveira, uma das organizadoras da Cryptorave, um dos maiores eventos de criptografia, segurança e hacking que existe.
“Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia, existem alguns programas e aplicativos que podem minimizar os riscos da divulgação de nudes sem consentimento na internet” diz Cybelle, “100% seguro é simplesmente não mandar”, afirma.
Ameaças e divulgação de fotos íntimas pela internet sem autorização é crime e é um transtorno complexo a ser enfrentado. Antes de enviar qualquer coisa, precisamos refletir sobre nossas ações e sempre avaliar bem nossos comportamentos na rede para não passarmos por situações ruins envolvendo esse tipo de exposição.
“Naquele momento você tem confiança na pessoa, mas e depois? Será que a outra pessoa tem maturidade e respeito suficiente para realizar essa troca tão íntima com você?”, questiona Cybelle.
O risco da produção desse tipo de conteúdo é que uma vez na internet, essas imagens saem de controle, é o que afirma a pesquisadora sobre o assunto, Nealla Machado. “Elas podem se espalhar em grupos de redes sociais, sites pornográficos, e-mails, fóruns, podem parar em absolutamente todo o lugar. E uma vez na internet, para sempre na internet”, conta Nealla.
Nealla explica que por conta da nossa sociedade machista e misógina, as mulheres não podem e nem conseguem expressar sua sexualidade sem sofrerem sérias represálias. “O vazamento das nudes é um meio de violência contra as mulheres, pois as que sofrem com essas agressões tem que mudar totalmente de vida, deixam de estudar, trabalhar, às vezes trocam de cidade, estado, país”, diz.
Para as jovens, a pesquisadora conta que tudo fica mais difícil, pois muitas vezes elas não têm condições financeiras, físicas e psicológicas de passar por esse tipo de agressão na internet. Existem até casos de suicídio por conta da depressão e da vergonha, revela Nealla. “Por isso a necessidade de conscientização de jovens e adultos sobre os usos da internet e segurança na rede, como também as questões de gênero”, acredita.
Atenção!
Nealla explica que muitos especialistas aconselham não registrar esse tipo de conteúdo, mas se for fazer algumas precauções e orientações:
- Não tirar fotos do rosto ou de marcas que podem te identificar, como tatuagens;
- Evitar também ambientes que possam identificar você no mesmo local por outras fotos;
- Deixar as imagens guardadas em pastas com senha ou criptografadas no celular;
- Cuidado com os links estranhos;
- Quando enviar nudes ou vídeos íntimos, utilizar aplicativos que deletam a foto depois de alguns segundos e que avisam se foi registrado print da tela;
- E somente enviar para pessoas de confiança.
O que fazer e como ajudar mulheres vítimas ou ameaçadas de exposição?
O principal é não sentir vergonha, está acontecendo um crime, existe uma vítima e a sexualidade é parte completamente natural da vida humana. Mas vamos às orientações da especialista:
- Primeira coisa é não julgar as mulheres e não repassar as nudes que recebemos, isso é um exercício de solidariedade;
- Para as vítimas, a primeira coisa é conseguir registrar provas materiais de que está sendo ameaçada ou sofrendo extorsão, então tirar prints de conversas e várias telas, e imprimir esses prints;
- Se ocorrem ameaças por meio de ligações ou outras formas, gravar e registrar essas formas;
- Depois, ir até a delegacia de crimes digitais mais próxima e fazer o boletim de ocorrência, para que se iniciem as investigações. Caso não exista uma delegacia específica em sua cidade, as delegacias tradicionais podem investigar.
- Sites e redes sociais são obrigados a tirar esse tipo de conteúdo, então denunciar o conteúdo o quanto antes e se possível pedir para outras pessoas fazerem o mesmo.
- A Safernet tem um canal de comunicação com mais dicas e lugares de denúncia também: https://new.safernet.org.br/.