“Como consegui dizer não depois de ter topado transar”

Depois de já ter feito sem vontade várias vezes, decidi respeitar a minha vontade e isso me fez sentir muito bem e dona do meu corpo

Depoimento de A.R., 35 anos, dado a Gislene Ramos

Ano passado, conheci um rapaz em um barzinho, foi uma conversa interessante, rolou clima e combinamos de sair depois. No nosso primeiro encontro, ele passou pra me pegar em casa. Foi uma energia ótima. Conversamos bastante, boas risadas e senti que as coisas fluíram. Gostei. Ficamos e nos demos muito bem. Depois nos falamos algumas vezes e combinamos um segundo encontro em um restaurante. Pelo teor mais íntimo das nossas conversas, já estava entendido que iria rolar sexo. E eu estava bem afim!

Chegando o dia, ele foi me buscar e ainda no carro quando fui comprimentá-lo já não senti a mesma energia boa que havia sentido na primeira vez. Não sei explicar muito bem, mas parecia que naquele dia não tinha mais química. Essas coisas acontecem, né?

Então percebi que eu não estava mais afim de ficar com ele e, não tive dúvida, falei. Como a gente já conversava, me senti à vontade para falar a ele que havia mudado de ideia e que não estava afim de transar. Ele ainda tentou me convencer a continuar, mas eu não estava afim mesmo. Ficou na cara a insatisfação dele, mas eu não podia fazer nada, tinha que respeitar a minha vontade, né?

Ter feito isso me fez muito bem. É que eu já tinha passado por essa situações de topar sair e depois perder a vontade, mas nunca tinha tido coragem de dizer não. Na verdade eu não sabia dizer não. Saía com as pessoas e por medo de sei lá o que, eu me submetia mesmo não querendo.

Quando isso acontecia, eu me sentia péssima, querendo que terminasse logo e aquilo me machucava até nos dias seguintes. Mas na hora, eu achava que, poxa, o cara está aqui, se disponibilizou para estar comigo, mudar de ideia não me parecia certo. E também por medo de sofrer alguma agressão, de que ele não aceitasse.

Acho que isso acontecia porque eu tinha um complexo muito grande, achava que eu era inferior. Mas com o tempo, maturidade e muito autocuidado, percebi que sou muito mais que pré conceitos femininos ou de outro tipo. Percebi que não valia a pena me agredir pra tentar agradar a ninguém.

Então desta vez foi diferente. No meu pensamento, se eu transasse com ele percebendo que a energia não estava boa, me sentiria um objeto descartável. E por isso, decidi que não iria contrariar a minha vontade, nem me machucar para agradar ou não ferir o outro. Ele respondeu que entendia minha decisão, mas a expressão dele não era das melhores. Como ele estava de carro, me levou para casa.

Ele ainda me procurou algumas vezes, mas deixei claro que não queria mais e ele acabou desistindo.

No final de tudo, eu me senti muito bem, sem peso na consciência. Não me senti usada e a sensação foi incrível, libertadora. Percebi como posso ser dona das minhas escolhas e do meu próprio corpo.

Se ame antes de mais nada. Não maltrate seu corpo para alegrar outra pessoa. Corpo maltratado é sinônimo de mente machucada. Cicatrizes e feridas da alma doem muito mais que a do corpo físico.

Tocar e conhecer o próprio corpo

Tocar e conhecer o próprio corpo ainda está no paredão dos tabus. Infelizmente a sensação de culpa e julgamento insistem em perseguir o prazer das mulheres, ainda o machismo constrói a ideia de que nós nos tocarmos  é um problema. Por isso, e outras tretas, que é muito importante se conhecer e compreender que esse corpitcho só tem uma dona: você mesma. 

“Temos tido a oportunidade de falar sobre masturbação, as redes sociais têm abordado e existe uma onda feminista que defende muito o empoderamento feminino, o conhecimento do próprio corpo e a sexualidade, mas as mulheres ainda trazem bloqueios com relação ao próprio corpo”, nos conta Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina. 

Dra. Giani Cezimbra, ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva

O privilégios da liberdade sexual dos homens ainda é muito grande e desrespeita o espaço das garotas, sobretudo o território de seus corpos. A Dra. Giani Cezimbra, também ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva nos conta que “tanto a masturbação feminina, quanto a descoberta do funcionamento do próprio corpo, a capacidade em obter prazer e orgasmo sem a presença de outra pessoa são rodeadas de muitos preconceitos culturais e religiosos”, afirma.

“Masturbação ainda é um tema abordado com muitos pudores”, diz a ginecologista Giani Cezimbra. Ela afirma que “é importante que [as mulheres] conheçam seus corpos e possam vivenciar sua sexualidade de uma forma plena e satisfatória”. 

Não tem jeito: só cuida de si quem se conhece e convenhamos que autoconhecimento é tudo.  Estimular o corpo, sentir prazer e toda essa autonomia é fundamental e possui uma série de benefícios, de acordo com a ginecologista Carolina Ambrogini: 

  • Reduz estresse e ansiedade;
  • Melhora o sono;
  • Pode diminuir cólicas;
  • Aumenta o desempenho sexual;
  • Ajuda a atingir o orgasmo mais facilmente;
  • Queima calorias;
Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina

Mas para isso tudo ser concebido, é essencial se sentir tranquila e à vontade para se tocar. De nada vale se tocar e não sentir prazer. Autoconfiança e coragem tornam-se importantes para realizar esse carinho consigo. Porém, a formulação de fantasias sexuais é fundante. “Se você não pensa em algo erótico, que estímulo você terá para se tocar?”, questiona Carolina Ambrogini. Estamos falando sobre cuidar do físico e da mente. 

Algumas perguntinhas orientadas pela Dra. Carolina Ambrogini para montar seu repertório sexual, tão importantes quanto se tocar:

O que eu gosto sexualmente na cama? 

Quais são minhas fantasias?

Como me sinto excitada? Como é essa busca?

Como meu corpo responde aos meus estímulos?

Como anda minha autoestima?

Converse, tire duvidas, puxe este assunto com suas amigas. É natural, é íntimo e libertador. É sobre você e seu corpo. É sobre se agradar, se sentir amada. Prazer também é isso, para senti-lo com outra pessoa é muito importante essa individualidade. 

E vale mencionar que apesar da indústria pornô muitas vezes ser a principal fonte de “educação sexual” das pessoas e estar relacionada a masturbação, lembre-se que esse mercado muitas vezes reforça estereótipos da mulher a serviço do sexismo… e não é sobre isso que estamos falando, beleza? Fique atenta.

“Mulher empoderada e autoconfiante não aceita violências e imposições sociais baseadas em crenças negativas e nocivas. Sua decisão é baseada no que ela acredita que seja melhor para ela mesma”, conta a ginecologista Giani Cezimbra. Se toquem, pratiquem amor próprio. Prazer é fundamental e também está em suas mãos.

Sensualizar na internet

Uma vez na internet, as imagens saem do seu controle. “Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia

Em tempos de pandemia, enquanto não podemos sair para encontrar o crush ou a crush, trocar uns nudes ou fazer umas vídeos chamadas mais sensuais às vezes pode rolar, né, minha filha? O nome dessa prática de compartilhar conteúdos sexuais com outra pessoas pela internet se chama sexting. Mas, é preciso informação e muito cuidado. Não faça nada por pressão, para estar na moda ou porque o ou a crush estão insistindo. 

Um nudezinho aqui e outro ali está cada vez mais comum por conta da difusão de tecnologias de comunicação e também tem se tornando um comportamento social. “Muitas pessoas usam nudes como forma de estabelecer contato com possíveis parceiros afetivo ou sexuais, e a linguagem da internet é uma linguagem audiovisual. As pessoas só estão se adaptando a esses formatos”, conta  Nealla Machado, pesquisadora sobre sexting e violência contra as mulheres. 

Os smartphones possibilitam essa nova maneira de expressar a sexualidade. O “nude selfie” e práticas relacionadas fazem parte dessa nova cultura. Para muitas pessoas essa prática vira até prova de cumplicidade e intimidade com o parceiro ou parceira. Entretanto, é fundamental realizar boas escolhas para evitar arrependimentos e situações de perigo quando pessoas mal intencionadas se aproveitam dessas imagens. Tenha muito cuidado!

Em uma sociedade marcada por desigualdades, muitas mulheres ficam prejudicadas nessa história toda, ameaçadas e até extorquidas, aí o sexting vira um problema. Isto é o que acredita Cybelle Oliveira, uma das organizadoras da Cryptorave, um dos maiores eventos de criptografia, segurança e hacking que existe.  

“Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia, existem alguns programas e aplicativos que podem minimizar os riscos da divulgação de nudes sem consentimento na internet” diz Cybelle,  “100% seguro é simplesmente não mandar”, afirma. 

Ameaças e divulgação de fotos íntimas pela internet sem autorização é crime  e é um transtorno complexo a ser enfrentado. Antes de enviar qualquer coisa, precisamos refletir sobre nossas ações e sempre avaliar bem nossos comportamentos na rede para não passarmos por situações ruins envolvendo esse tipo de exposição. 

“Naquele momento você tem confiança na pessoa, mas e depois? Será que a outra pessoa tem maturidade e respeito suficiente para realizar essa troca tão íntima com você?”, questiona Cybelle. 

O risco da produção desse tipo de conteúdo é que uma vez na internet, essas imagens saem de controle, é o que afirma a pesquisadora sobre o assunto, Nealla Machado. “Elas podem se espalhar em grupos de redes sociais, sites pornográficos, e-mails, fóruns, podem parar em absolutamente todo o lugar. E uma vez na internet, para sempre na internet”, conta Nealla.

Nealla explica que por conta da nossa sociedade machista e misógina, as mulheres não podem e nem conseguem expressar sua sexualidade sem sofrerem sérias represálias. “O vazamento das nudes é um meio de violência contra as mulheres, pois as que sofrem com essas agressões tem que mudar totalmente de vida, deixam de estudar, trabalhar, às vezes trocam de cidade, estado, país”, diz. 

Para as jovens, a pesquisadora conta que tudo fica mais difícil, pois muitas vezes elas não têm condições financeiras, físicas e psicológicas de passar por esse tipo de agressão na internet. Existem até casos de  suicídio por conta da depressão e da vergonha, revela Nealla. “Por isso a necessidade de conscientização de jovens e adultos sobre os usos da internet e segurança na rede, como também as questões de gênero”, acredita. 

Atenção!

Nealla explica que muitos especialistas aconselham não registrar esse tipo de conteúdo, mas se for fazer algumas precauções e orientações:

  • Não tirar fotos do rosto ou de marcas que podem te identificar, como tatuagens;
  • Evitar também ambientes que possam identificar você no mesmo local por outras fotos;
  • Deixar as imagens guardadas em pastas com senha ou criptografadas no celular;
  • Cuidado com os links estranhos;
  • Quando enviar nudes ou vídeos íntimos, utilizar aplicativos que deletam a foto depois de alguns segundos e que avisam se foi registrado print da tela;
  • E somente enviar para pessoas de confiança. 

O que fazer e como ajudar mulheres vítimas ou ameaçadas de exposição?

O principal é não sentir vergonha, está acontecendo um crime, existe uma vítima e a sexualidade é parte completamente natural da vida humana. Mas vamos às orientações da especialista:

  • Primeira coisa é não julgar as mulheres e não repassar as nudes que recebemos, isso é um exercício de solidariedade;
  • Para as vítimas, a primeira coisa é conseguir registrar provas materiais de que está sendo ameaçada ou sofrendo extorsão, então tirar prints de conversas e várias telas, e imprimir esses prints;
  • Se ocorrem ameaças por meio de ligações ou outras formas, gravar e registrar essas formas;
  • Depois, ir até a delegacia de crimes digitais mais próxima e fazer o boletim de ocorrência, para que se iniciem as investigações. Caso não exista uma delegacia específica em sua cidade, as delegacias tradicionais podem investigar. 
  • Sites e redes sociais são obrigados a tirar esse tipo de conteúdo, então denunciar o conteúdo o quanto antes e se possível pedir para outras pessoas fazerem o mesmo. 
  • A Safernet tem um canal de comunicação com mais dicas e lugares de denúncia também: https://new.safernet.org.br/.  

 

Campanha Ela Decide chega a Taguatinga, no Distrito Federal

Liderada pelo Fundo de População das Nações Unidas, a ação ficará até o final de janeiro no Taguatinga Shopping 

Chamando atenção do público para a importância do empoderamento de jovens mulheres para que tomem decisões informadas sobre a vida sexual e reprodutiva, a Campanha Ela Decide chega a Taguatinga. A ação é liderada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil.

Seis totens em tamanho natural com as fotos das atrizes Bella Piero e Juliana Alves; e das youtubers Gabi Oliveira, do canal DePretas e Julia Tolezano, a Jout-Jout, serão instalados nos corredores do shopping. As influenciadoras aderiram voluntariamente à campanha para que a mensagem sobre os direitos sexuais e reprodutivos possa chegar ao maior número de pessoas, especialmente jovens mulheres. 

A instalação acontece no Taguatinga Shopping a partir desta sexta-feira (17) e fica exposta até dia 31 de janeiro. O público vai poder interagir com os totens e publicar as fotos nas mídias sociais com a hashtag #ElaDecide marcando também o UNFPA Brasil (@unfpabrasil) e as influenciadoras (@bella.piero, @joutjout, @julianaalvesiam, @gabidepretas) e o perfil da Campanha Ela Decide nas mídias sociais (@eladecide).

A campanha Ela Decide tem por objetivo discutir sobre o poder de escolher quantos filhos ter, se quer ou não ter filhos e o melhor método de prevenção que cada mulher ou jovem pode optar. Além disso, traz à luz questões sobre igualdade de gênero, assédio sexual, como aceitar o próprio corpo, cuidar da saúde. A campanha é uma das iniciativas da  Aliança pela Saúde e pelos Direitos Sexuais e Reprodutivos no Brasil, uma rede de empresas e organizações filantrópicas que busca fortalecer o tema no país, além das embaixadas do Canadá e do Reino dos Países Baixos. 

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) é a agência de desenvolvimento internacional da ONU que trata de questões populacionais. O UNFPA trabalha por um mundo onde todas as gestações sejam desejadas, todos os partos sejam seguros e cada jovem alcance seu potencial. Também colabora com governos e parceiros para promover o acesso universal a serviços integrados de saúde sexual e reprodutiva de qualidade. 

 

Endereço

Taguatinga Shopping. QS 1 – Taguatinga, Brasília – DF

 

Informações para imprensa 

Thais Rodrigues imprensa.brasil@unfpa.org (61) 3038-9246

Rachel Quintiliano imprensa.brasil@unfpa.org (61) 3038-9261

Tirando de letra o cuidado com o corpo

O consultório ginecológico é um ambiente onde você se sente amparada e segura ou rola uma apreensão diante da dinâmica da consulta? Se a segunda opção está mais próxima do que você imagina ou do que já passou, se liga na troca de ideias que tivemos.

A ginecologista, obstetra e sexóloga Fátima Duarte acredita que é preciso entender o quanto cada corpo é único. Desde o tamanho de um seio em comparação ao outro, aos pêlos pelo corpo e até em relação ao ciclo menstrual: há um caminho que precisa passar por informação, por diálogo, pelo respeito aos direitos sexuais e reprodutivos. “Precisamos democratizar conhecimentos de maneira multidisciplinar. Isso deve envolver uma série de profissionais. Todas as pessoas precisam se abrir para essa construção, para enxergar a mulher como um todo”, diz a médica, que há sete anos está à frente do projeto Sábado Sem Barreiras, dedicado à saúde de mulheres com deficiência.

Nessa jornada de se conhecer e de fazer as próprias escolhas, a estudante de pedagogia Mileni Natalie conta como prefere ser atendida: “No meu caso, me sinto 100% confortável me consultando com uma médica mulher, não desmerecendo os médicos do gênero masculino, mas me sinto segura”. Outro ponto importante para ela é poder estabelecer um diálogo sobre sua própria sexualidade. “Sempre deixei claro que só me relacionava com mulheres. Acredito que as mulheres estão se sentindo mais confortáveis para falar da sua sexualidade.”

A obstetriz e ativista pela educação sexual Lucila Pougy realiza há dois anos a oficina sobre o tema Meu Corpo No Papel, voltada para jovens do ensino médio de escolas públicas de São Paulo, e concorda com Mileni. “Acho que é uma geração mais aberta, mais fluida, que se sente estimulada ao conhecimento e que interage bastante. Recentemente, dei uma atividade num grupo onde havia uma menina trans, que era curiosa, participativa e, principalmente super acolhida pelos colegas. O que sinto que ainda há muitas dúvidas, não apenas das jovens quanto das mulheres experientes. Por isso, é muito importante que a gente converse abertamente, reflita e pratique uma rotina de cuidados”, conta.

Desafios
“Acredito que é fundamental um olhar cuidadoso no atendimento clínico protetivo, seja ele de rotina ginecológica ou um pré-natal”, sugere Julieta Jacob, mestra em Direitos Humanos pela UFPE e autora do livro Tuca e Juba – Prevenção de Violência Sexual Para Adolescentes. Ela lembra que as diversas necessidades e particularidades das mulheres devem ser atendidas sem julgamentos.

Um ponto importante é visibilizar as pessoas trans que procuram ginecologistas tanto pela saúde quanto pela construção do universo simbólico em que estão inseridas. O profissional médico precisa saber como fazer perguntas de maneira que se estabeleça a confiança. “A abordagem heteronormativa e cisgênera é autoritária. Eu acho importantíssima a construção de uma ginecologia mais atenta, que olhe para pacientes como um todo”, acrescenta Fátima Duarte.

Tamo junta

Alyne Ewelyn Santos é bióloga, grafiteira e militante movimento LGBQTI

Há também uma série de ferramentas que podem ser acessadas para se chegar a um consultório médico sem tantas inseguranças: rodas de conversa, redes de apoio e aulas interdisciplinares sobre corpo e sexualidade. Alyne Ewelyn Santos é bióloga, grafiteira e militante movimento LGBQTI. Participa da Liga Brasileira de Lésbicas e Bissexuais, do grupo Bisibilidade e de coletivos negros no Rio de Janeiro. “Discutir os direitos sexuais e reprodutivos é essencial, especialmente para mulheres negras”, afirma.

Alyne ressalta que a combinação de um bom atendimento com informação e autonomia podem ajudar a mudar uma realidade no Brasil: a gravidez não intencional na adolescência. Ela pode ser evitada com a orientação de ginecologistas e de outros atores que fortalecem a rede de atendimento aos jovens.

Rede de apoio na maternidade!

 

Josimar Silveira e Adriana Arcebispo são pais do Akins e da Dandara

Se liga nesse cuidado para toda a vida!

Desde o momento da gravidez são muitas as questões que envolvem a maternidade. As mulheres que atravessaram as aventuras da primeira viagem garantem: é um turbilhão de emoções e sentimentos. As experiências de cada uma são únicas e, por isso mesmo, compartilhá-las pode ser uma forma de se construir pontes num mundo que, às vezes, parece cheio de barreiras.

Talvez você tenha ouvido falar em rede de apoio e, certamente, você recebeu esse cuidado um dia. A avó, mãe, pai, tio, tia, madrinha, a irmã que acompanham os dias mais sensíveis, especialmente depois do parto. A melhor amiga, a prima, a vizinha que mandam uma mensagem com uma dica valiosa.

Planejando a rede de apoio

Michele e Bruno Passa são pais da Zahara

A Michele e o Bruno Passa, que são pais da Zahara, planejaram a rede de apoio de maneira quase simultânea à gestação. Como as famílias dos dois moram longe, o apartamento foi tomado pelo cuidado das avós durante uma temporada. Atualmente, a distância é minimizada com a ajudinha da tecnologia, já que o casal faz chamadas por vídeo para que a pequena mantenha as referências das avós. “Esse apoio emocional da nossa família é primordial”, destaca Michele, professora e influenciadora digital.

Responsabilidade compartilhada

No dia a dia a sintonia do casal fortalece os cuidados com Zahara. “As pessoas próximas brincam que somos uma dupla. Perguntam: ‘você acorda de madrugada também?’.  Respondo que não é uma ajuda, que é a paternidade e que quero dividir com ela todos os momentos”, conta Bruno, que é oceanógrafo. Ao contrário do que se pode imaginar, Michele e Bruno não desenvolveram uma planilha para partilhar responsabilidades. Conversar, contar como se sente, expor para a outra pessoa dúvidas, inseguranças e medos ajuda. Você não tem que dar conta de tudo sozinha e não precisa.

Os pais de Akins e Dandara, a assistente social Adriana Arcebispo e o metroviário Josimar Silveira, que dividem um perfil no instagram voltado para suas vivências familiares, têm a sorte de contar com uma rede de apoio ampla. As tarefas em casa são divididas. Eles têm o suporte da mãe de Adriana, que passa um dia na semana com os netos, e dos amigos. A construção da rede de apoio permite que eles realizem diversas atividades com as crianças, juntos e também respeitando suas individualidades. Esse é um ponto muito importante: ir ao salão para fazer as unhas ou sair para tomar sorvete com as amigas pode e deve continuar sendo algo que lhe dê prazer.

Josimar lembra que neste ano, quando a esposa teve um problema de saúde, muita gente se dispôs a ajudar com os filhos do casal. “Eu pude cuidar dela tranquilamente porque tinha gente levando e buscando na escola, brincando com eles. Essa rede nos dá a sensação de acolhimento, de que não estamos sós”.

Acionando amigos e amigas

Danielle Bueno de Freitas é mãe da Teresa e do João

Depois de conversar em casa, está na hora do papo com os amigos mais próximos, mesmo os que não têm filhos e filhas. Essa é a dica da Danielle Bueno de Freitas, produtora e mãe do João e da Teresa. “A maternidade é linda, porém pode parecer solitária. As mães lidam de forma muito particular com essa demanda que é grande: amamentar, acordar de madrugada, estar o tempo todo cuidando do bebê. Eu acho que os amigos têm um papel fundamental quando se dispõem a estar presentes. Bom lembrar que aquela mãe continua sendo sua amiga divertida, que gosta de rir e conversar”.

Se sua melhor amiga não consegue segurar um recém-nascido, relaxe. Ela pode ir ao supermercado comprar frutas que não podem faltar na sua geladeira durante a amamentação e até dar um spoiler da série favorita, que você não terá tempo de assistir, mas que vai curtir saber mais sobre a trama. “Meus amigos são muito presentes. Sou mãe de um menino especial (João tem autismo) e que ama arte e eles sempre indicam oficinas e exposições, como as de grafite, que ele adora”, afirma Danielle.

Também tem espaço para grupos nas redes sociais

Telma Bueno Pimentel é mãe de Nina, Gael e Lola

“Toda ajuda é bem-vinda porque o momento é muito legal, mas a gente não sabe de muita coisa, principalmente quando nasce o primeiro filho”, explica a gerente de marketing Telma Bueno Pimentel, mãe de Nina, Lola e Gael. Movida pela vontade de colaborar com mães e pais ao seu redor ela criou uma rede de apoio em forma de grupo de Whatsapp, do qual participam amigos próximos e alguns vizinhos.

A cooperação passa por dicas para ajudar nos desafios dos primeiros dias e meses do bebê, por cuidar de uma criança do apartamento ao lado, por buscar a turminha na escola se os pais ficaram presos no trânsito, por exemplo, e até por ceder uma xícara de farinha quando o ingrediente faltou. “O senso de viver em comunidade, de se ajudar é fundamental, ainda mais num mundo que está muito digital e, às vezes, solitário”, relata Telma.

Já pensou em montar uma rede de apoio assim? É um ótimo jeito de usar uma ferramenta on-line para o bem, para se ajudar e ajudar outras mães, pais e crianças.

Siga no Instagram:

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@familiaquilombo

Sexy sem ser vulgar: porque você deve debater a objetificação do corpo da mulher?

empoderamento feminino

Ser mulher em nossa sociedade pode significar ter o corpo exposto a violências físicas e simbólicas  que partem do princípio da sua objetificação. Como refletir sobre e, mais importante, como lidar e lutar contra isso.

É notável a ascensão das articulações femininas em prol da liberdade e dos direitos das mulheres. São debates, rodas de conversas, iniciativas nas universidades, grupos online, pauta em programas televisivos,  manifestações artísticas e afins, como se viu em diversos países nas manifestações do Dia Mundial da Mulher ao redor do mundo em 2019. 

Entretanto, até hoje ainda há estereótipos que cerceiam a existência feminina provenientes também do machismo estrutural que ainda assola a sociedade. Mulheres ainda são desrespeitadas, têm seus corpos e direitos violados, são hiperssexualizadas, objetificadas e invizibilizadas em diversos níveis: desde as produções que vemos na mídia e indústria do  entretenimento às relações em seus lares.

Histórica e socialmente,  foi construída a ideia da mulher como alguém servil. Mas, a cada dia essas estruturas são questionadas. É importante que a sociedade, e sobretudo, as mulheres, conheçam os direitos femininos. Conhecimento é um dos pilares mais importantes para o empoderamento feminino.  Segundo dados do IBGE, em 2019, as mulheres são responsáveis por cerca de 14% a mais dos trabalhos domésticos em relação ao homem. Ou seja, além de muitas vezes, enfrentar uma jornada de trabalho regular, ao chegar em casa, essa mulher ainda é responsável pelas tarefas e manutenção do lar. Tal acúmulo de funções, e esse peso de servir o tempo todo e em diferentes contextos, ocasiona sobrecarga mental e física. Mesmo com todos os avanços sociais, ainda espera-se que a mulher esteja ali pra servir.

No Brasil, o corpo da mulher é fruto de uma construção histórica, e é considerado inferior. 

Historicamente, a  mulher é vista de maneira secundária na sociedade. Simone  Beauvoir, no primeiro capítulo do livro “O segundo Sexo”, no fim da década de 1940, já alertava que socialmente a mulher é o “Outro”, em relação aos homens. Ou seja, suas vontades são subjugadas, e suas vivências colocadas em segundo plano. 

Quando falamos de mulheres negras, segundo  a psicóloga, artista e teórica cultura, Grada Quilomba, a mulher negra é o “Outro do Outro”, pois além das questões sociais em torno do feminino, ela também encontra barreiras no quesito raça, já que o racismo ainda é forte e estrutural no Brasil. Além disso, para fortalecermos a luta feminina, é importante pensar o feminismo por uma “perspectiva de raça e classe”, segundo propõe a  filósofa Djamila Ribeiro. 

Portanto, repensar a forma como a mulher e o seu corpo foram construídos socialmente, é uma forma de olhar o passado, e reescrever o futuro, sem que se cometam os mesmos erros, a fim de  tornar a luta feminina ainda mais forte e inclusiva.

Conhecer os direitos das mulheres é fundamental para promover mudanças

Direito da mulher é todo aquele que a protege como indivíduo, é previsto e garantido por lei, pelos costumes e comportamentos, e são validados pela sociedade, que assume um compromisso em respeitá-los. 

Em 1995, na Conferência Mundial sobre a Mulher realizada em Pequim, foi constatada que a igualdade de gênero não é realidade em nenhum país do mundo. Para reverter esse cenário, firmou-se um compromisso, a Agenda 2030, com um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) focado em diminuir as desigualdades contra mulheres e as meninas ao redor do mundo

Falar sobre o corpo da mulher brasileira é estimular a desconstrução

Dialogar sobre a mulher brasileira como indivíduo, e como agente na sociedade é, sobretudo, um processo de desconstrução dos estereótipos que permeiam o imaginário acerca do que é feminino, o que é relativo ao gênero, e do papel que foi construído para ela ao longo dos anos. 

A busca por informações sobre os direitos femininos é uma importante ferramenta na construção de um novo cenário em que a mulher pode ser aceita, em que seus direitos possam ser conhecidos e  respeitados, e cria um espaço de acolhimento, em que ela pode se sentir orgulho de ser quem é. Nesse ponto, reside a representatividade, no sentido de que essa mulher pode conseguir melhores condições para viver.  Muda a forma como a mulher se vê, pois ela deixa de ser ‘o outro do Outro’ para se tornar cada vez mais dona de si. Esse caminho pode ser feito por meio de autoconhecimento, e do conhecimento dos direitos da mulher,  que são capazes de embasar verdadeiras mudanças, e construir para essa mulher, novos espaços.  #ElaDecide.

Leitura relacionada: Para você? O que é ser mulher nos dias de hoje?