Depois de já ter feito sem vontade várias vezes, decidi respeitar a minha vontade e isso me fez sentir muito bem e dona do meu corpo
Depoimento de A.R., 35 anos, dado a Gislene Ramos
Ano passado, conheci um rapaz em um barzinho, foi uma conversa interessante, rolou clima e combinamos de sair depois. No nosso primeiro encontro, ele passou pra me pegar em casa. Foi uma energia ótima. Conversamos bastante, boas risadas e senti que as coisas fluíram. Gostei. Ficamos e nos demos muito bem. Depois nos falamos algumas vezes e combinamos um segundo encontro em um restaurante. Pelo teor mais íntimo das nossas conversas, já estava entendido que iria rolar sexo. E eu estava bem afim!
Chegando o dia, ele foi me buscar e ainda no carro quando fui comprimentá-lo já não senti a mesma energia boa que havia sentido na primeira vez. Não sei explicar muito bem, mas parecia que naquele dia não tinha mais química. Essas coisas acontecem, né?
Então percebi que eu não estava mais afim de ficar com ele e, não tive dúvida, falei. Como a gente já conversava, me senti à vontade para falar a ele que havia mudado de ideia e que não estava afim de transar. Ele ainda tentou me convencer a continuar, mas eu não estava afim mesmo. Ficou na cara a insatisfação dele, mas eu não podia fazer nada, tinha que respeitar a minha vontade, né?
Ter feito isso me fez muito bem. É que eu já tinha passado por essa situações de topar sair e depois perder a vontade, mas nunca tinha tido coragem de dizer não. Na verdade eu não sabia dizer não. Saía com as pessoas e por medo de sei lá o que, eu me submetia mesmo não querendo.
Quando isso acontecia, eu me sentia péssima, querendo que terminasse logo e aquilo me machucava até nos dias seguintes. Mas na hora, eu achava que, poxa, o cara está aqui, se disponibilizou para estar comigo, mudar de ideia não me parecia certo. E também por medo de sofrer alguma agressão, de que ele não aceitasse.
Acho que isso acontecia porque eu tinha um complexo muito grande, achava que eu era inferior. Mas com o tempo, maturidade e muito autocuidado, percebi que sou muito mais que pré conceitos femininos ou de outro tipo. Percebi que não valia a pena me agredir pra tentar agradar a ninguém.
Então desta vez foi diferente. No meu pensamento, se eu transasse com ele percebendo que a energia não estava boa, me sentiria um objeto descartável. E por isso, decidi que não iria contrariar a minha vontade, nem me machucar para agradar ou não ferir o outro. Ele respondeu que entendia minha decisão, mas a expressão dele não era das melhores. Como ele estava de carro, me levou para casa.
Ele ainda me procurou algumas vezes, mas deixei claro que não queria mais e ele acabou desistindo.
No final de tudo, eu me senti muito bem, sem peso na consciência. Não me senti usada e a sensação foi incrível, libertadora. Percebi como posso ser dona das minhas escolhas e do meu próprio corpo.
Se ame antes de mais nada. Não maltrate seu corpo para alegrar outra pessoa. Corpo maltratado é sinônimo de mente machucada. Cicatrizes e feridas da alma doem muito mais que a do corpo físico.
Para não esquecer: tudo bem escolher esperar, tudo bem escolher transar. Só você sabe o que é melhor para você!
Ilustração: Revista AzMina
*A campanha Ela Decide se uniu à Revista AzMina para produção de conteúdo exclusivo sobre saúde sexual e direitos. A partir de hoje você confere parte deles aqui e no site: azmina.com.br
Aposto que se você já teve a sua primeira transa vai ficar com o pensamento: porque eu não li essa lista antes?! Mas tudo bem, ela vale para muitas garotas e arriscaria até dizer que para as relações de quem não é mais virgem. Afinal, todas nós sentimos desejos e, infelizmente, esse assunto ainda é tabu, o que dificulta a conversa. Mas aqui não, vamos falar de sexo como o que ele é: algo natural!
A primeira transa envolve muitas questões além do desejo em si. Maturidade, autoconhecimento, entender o próprio corpo, a sensualidade e o seu erotismo. Além disso, é importante saber quais os cuidados devemos ter com nosso corpo. E sabe o que faz diferença em tudo isso? Ter informação confiável para poder fazer suas escolhas.
Então, vamos lá! Se liga nessas dicas básicas e necessárias que preparamos pra você com a ajuda da psicóloga e sexóloga, Cristiane Yokoyam.
Conheça seu corpo
Você conhece o seu corpo? Conversa com ele? Muitas garotas não têm o costume de se tocar, de conhecer cada partezinha do corpo de que é dona. É observando-o e sentindo-o que você percebe que ele não é mais infantil e passa a entender quais os seus desejos e as suas zonas de prazer.
Sim, estamos falando de masturbação! Não tenha vergonha. É o momento de você conhecer o seu erotismo e tirar prazer do próprio corpo. É algo super saudável, sabendo ter prazer consigo mesma, é mais tranquilo ter prazer com o outro. Daí você vai entender o quanto seu corpo está amadurecido e pronto para uma relação sexual.
Menstruar NÃO determina quando transar
É um grande mito dizer que ao entrar na fase da menstruação, automaticamente a garota está pronta para a primeira relação sexual. Não é assim! Tem muitas meninas que menstruam muito jovens, com 10 anos, por exemplo.
O início da vida sexual, tanto para a menina, quanto para o menino, não é algo somente hormonal. Os fatores emocionais também são muito importantes! O momento certo é quando você já está bem com seu corpo e se sente pronta para ter intimidade com outra pessoa.
Tenha consciência dos riscos
Ninguém precisa ter medo, não! Mas é importante saber que há alguns riscos envolvidos no sexo. Sim, estamos falando de gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis. O negócio para lidar com isso é ser consciente. Sabendo dos riscos, você pode preveni-los.
Responsabilidade consigo mesma
A pessoa com quem você mais deve se preocupar no sexo não é o outro e sim você mesma. E ser responsável com você passa por um monte de coisas: desde se informar para tomar os cuidados necessários para ter uma vida sexual saudável, até respeitar seus limites.
Além disso, a responsabilidade na cama passa pela vida fora dela. Um bom exemplo é com relação ao uso da pílula anticoncepcional. Muitas meninas começam a tomar, mas não têm a responsabilidade devida para tomar diariamente e da forma correta, e acabam esquecendo, o que deixa a pílula bem menos eficaz e aumenta os riscos.
Use camisinha!
Não tem essa de não querer usar preservativo! É algo extremamente necessário. Seja namoro, ficante ou amigo, a camisinha é peça fundamental em uma relação sexual. Se o garoto não quiser usar, você pode usar a camisinha feminina que é tão eficaz quanto a camisinha tradicional. Apesar de pouco conhecida, há pouca demanda, então não é difícil de encontrar, até em pontos de distribuição gratuita.
Lembrando que tomar pílula não acaba com a necessidade da camisinha, porque a pílula não previne doenças!
E sem esquecer quando rola aquele apelo emocional. Um papo do garoto de “Ah, se você quer mesmo ficar comigo…” ou “Se você me ama…”. Não caia nessa! Ame o seu corpo primeiro. Esse papo não tá com nada!
Se me ama, a prova de amor é o uso do preservativo. Se recusar a transar com preservativo é sinal de que esse cara não é a pessoa pra você, hein?! Provavelmente ele já fez isso ou faz isso com outras garotas. Não entre nessa furada e não coloque seu corpo em risco.
Não é para doer
Você já deve ter ouvido que “é normal” doer na primeira vez. Mas não. O sexo não pode ser algo doloroso, mesmo que a primeira vez. É um grande mito. Pode ser que se sinta um certo desconforto, mas não dor. Daí a importância de você estar bem preparada, conhecendo o seu corpo e sabendo que existe um hímen, que pode ser rompido, ou não, necessariamente.
A dor, muitas vezes, acontece quando não há uma lubrificação adequada – e às vezes é preciso tempo mesmo para que a vagina fique lubrificada. O importante é estar tranquila, sem pressa e respeitando o tempo do seu próprio corpo.
Claro que um pouco de nervosismo e ansiedade vão estar presentes. Daí uma saída é usar um lubrificante à base de água para ajudar. Mas tem que tirar esse mito de que a primeira vez que dói. O ato não é para ter dor, mas sim prazeroso! Inclusive, pode sangrar sim, mas isso também não é obrigatório, tá?
Todo mundo tem que gostar
Pode parecer óbvio, mas vale lembrar que o sexo deve ser prazeroso para todo mundo envolvido. Se está ruim, doendo ou desconfortável, não é obrigação sua continuar só para agradar a outra pessoa. Nesse momento, a parte de conhecer seu corpo é muito importante: assim você saberá dizer do que gosta e ajudar seu parceiro ou parceira a te proporcionar prazer também.
Sexo oral é sexo!
Pode ser que algum cara tente te convencer a fazer sexo oral “para não perder a virgindade”. Nessas horas é importante saber que sexo oral é sexo também. Tudo bem querer fazer, mas isso deve ser uma escolha sua.
Para quem contar?
A confidencialidade é uma escolha sua! Pode ser bom compartilhar um momento importante da sua vida, com uma amiga íntima, melhor amiga, sua mãe ou alguém em quem confia. É um sinal de que você tem pessoas que fazem parte da sua vida e que são importantes para você e é recíproco.
O importante é dividir isso com pessoas que sejam do seu círculo de confiança, com quem você tenha um vínculo positivo e saudável. E o melhor é que essa conversa, muitas vezes, pode até ser antes da relação sexual em si, e acaba servindo para você tirar dúvidas e compartilhar preocupações.
E se na hora eu não quiser mais?
Agora, atenção! Disse que queria e mudou de ideia? Perdeu a vontade? Ficou desconfortável? Sentiu dor? Pode parar, sim! A qualquer momento. É melhor parar e tentar outra hora e está tudo bem. Isso acontece e muito! Afinal, é a primeira vez. É normal estar um pouco nervosa e ansiosa. Para isso é importante que você tenha intimidade e confie na pessoa que estará com você, para que saiba entender e respeitar sua decisão.
Tudo bem transar, tudo bem esperar
Não entre na onda da pressão ou piada das outras pessoas. Você é a única pessoa capaz de dizer se está pronta, ou não. Vai ter gente dizendo que você devia transar logo ou que você devia se guardar. Mas a única opinião que conta nessa hora é a sua. Não faça ou deixe de fazer pelos outros.
Tocar e conhecer o próprio corpo ainda está no paredão dos tabus. Infelizmente a sensação de culpa e julgamento insistem em perseguir o prazer das mulheres, ainda o machismo constrói a ideia de que nós nos tocarmos é um problema. Por isso, e outras tretas, que é muito importante se conhecer e compreender que esse corpitcho só tem uma dona: você mesma.
“Temos tido a oportunidade de falar sobre masturbação, as redes sociais têm abordado e existe uma onda feminista que defende muito o empoderamento feminino, o conhecimento do próprio corpo e a sexualidade, mas as mulheres ainda trazem bloqueios com relação ao próprio corpo”, nos conta Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina.
Dra. Giani Cezimbra, ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva
O privilégios da liberdade sexual dos homens ainda é muito grande e desrespeita o espaço das garotas, sobretudo o território de seus corpos. A Dra. Giani Cezimbra, também ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva nos conta que “tanto a masturbação feminina, quanto a descoberta do funcionamento do próprio corpo, a capacidade em obter prazer e orgasmo sem a presença de outra pessoa são rodeadas de muitos preconceitos culturais e religiosos”, afirma.
“Masturbação ainda é um tema abordado com muitos pudores”, diz a ginecologista Giani Cezimbra. Ela afirma que “é importante que [as mulheres] conheçam seus corpos e possam vivenciar sua sexualidade de uma forma plena e satisfatória”.
Não tem jeito: só cuida de si quem se conhece e convenhamos que autoconhecimento é tudo. Estimular o corpo, sentir prazer e toda essa autonomia é fundamental e possui uma série de benefícios, de acordo com a ginecologista Carolina Ambrogini:
Reduz estresse e ansiedade;
Melhora o sono;
Pode diminuir cólicas;
Aumenta o desempenho sexual;
Ajuda a atingir o orgasmo mais facilmente;
Queima calorias;
Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina
Mas para isso tudo ser concebido, é essencial se sentir tranquila e à vontade para se tocar. De nada vale se tocar e não sentir prazer. Autoconfiança e coragem tornam-se importantes para realizar esse carinho consigo. Porém, a formulação de fantasias sexuais é fundante. “Se você não pensa em algo erótico, que estímulo você terá para se tocar?”, questiona Carolina Ambrogini. Estamos falando sobre cuidar do físico e da mente.
Algumas perguntinhas orientadas pela Dra. Carolina Ambrogini para montar seu repertório sexual, tão importantes quanto se tocar:
O que eu gosto sexualmente na cama?
Quais são minhas fantasias?
Como me sinto excitada? Como é essa busca?
Como meu corpo responde aos meus estímulos?
Como anda minha autoestima?
Converse, tire duvidas, puxe este assunto com suas amigas. É natural, é íntimo e libertador. É sobre você e seu corpo. É sobre se agradar, se sentir amada. Prazer também é isso, para senti-lo com outra pessoa é muito importante essa individualidade.
E vale mencionar que apesar da indústria pornô muitas vezes ser a principal fonte de “educação sexual” das pessoas e estar relacionada a masturbação, lembre-se que esse mercado muitas vezes reforça estereótipos da mulher a serviço do sexismo… e não é sobre isso que estamos falando, beleza? Fique atenta.
“Mulher empoderada e autoconfiante não aceita violências e imposições sociais baseadas em crenças negativas e nocivas. Sua decisão é baseada no que ela acredita que seja melhor para ela mesma”, conta a ginecologista Giani Cezimbra. Se toquem, pratiquem amor próprio. Prazer é fundamental e também está em suas mãos.
Olha, a maternidade não torna a mulher um ser de outro mundo. Ela continua sendo um ser humano, com vontades, erros e acertos. Beleza? Então, se você tá vivendo essa montanha russa que é a maternidade, relaxa, vai dar tudo certo e você vai voltar a se reconhecer. Você não está sozinha!
Mas a maternidade diminui a libido da mulher?
Mesmo com tudo que gira em torno da vida da mulher que se torna mãe, isso não diminui sua vida sexual. Mas, se rolar falta de libido, procure uma ginecologista e veja o que está acontecendo! Pode ser só uma fase, né? Afinal, a vida não é uma linha reta. Mas é MUITO importante que você fique ligada aos sinais do seu corpo, das suas emoções, da sua psiquê. Beleza?
A maternidade é trabalhosa, mesmo quando as responsabilidades são divididas com o/a parceiro/a e se tem uma rede de apoio. Então, é natural bater um cansaço mesmo.
#Dicadaamiga: separe uns minutinhos para relaxar
Às vezes, esvaziar os pensamentos e conectar-se consigo mesma é o melhor a fazer. Que tal acordar uns minutinhos mais cedo ou no horário de almoço. Relaxe e faça isso por você! Seu corpo agradecerá! =)
Mãe também tem vida social!
Quando uma mãe está curtindo uma festa, um baile ou até um cineminha, é comum as pessoas perguntarem: “ué, cadê o filho?”. Isso não acontece com a mesma frequência para os homens que se tornam pais – a paternidade ativa continua não sendo observada em todos os casos e a cobrança social sobre os homens é bem menor.
Ser mulher nos dias de hoje pode ser complicado, há cobranças que podem sobrecarregá-la. A gente já falou sobre isso aqui.
Existe essa ideia de que, uma vez que vira mãe, a mulher passa a ser só isso. Que a sua vida inteira vai se resumir à criança e à maternidade. Isso é uma injustiça! É claro que é uma parte importante da vida, mas ela continua sendo uma pessoa com vários outros interesses. E está tudo bem querer falar e fazer um programa diferente! Isso, inclusive, até melhora o convívio com o filho e a filha e faz muito bem.
Mas como juntar maternidade e vida social? Vamos lá:
#Dica 1: tente agendar previamente um “vale night”, uma balada. Mande aquela mensagem marota para familiares próximos, amigos de confiança, perguntando se em tal data, algum deles pode ficar com o seu baby, pra você conseguir um tempinho pra si mesma
#Dica 2: tente separar uns minutinhos pra ficar sozinha. Podem ser uns minutinhos mesmo, 5, 6 minutos: seu filho tá dormindo? pode ser um bom momento para cuidar de si com mais calma.
#Dica 3: converse com seu/sua parceiro/a sobre o sexo: o que você gosta, como estão as coisas depois da maternidade…enfim, deixe tudo às claras.
#Dica 4: no SUS você pode encontrar psicólogos que podem acompanhar você, o que é muito importante.
Existe essa pressão social muito forte em torno das mulheres que se tornaram mães e enfrentar isso sem se anular é um desafio! Afinal, essa mãe é um ser humano, que precisa de vida social, o que é saudável, inclusive.
Cuidar de si é um ato de amor, resistência e força! Quer falar sobre isso? Fala com a gente. #ElaDecide
O assédio sofrido por mulheres nas ruas e nos locais de trabalho é, muitas vezes, associado às roupas que elas usam. Até quando?
O assédio sexual é uma abordagem grosseira, e não consentida, que a mulher pode sofrer nas ruas, na escola, nos transportes públicos, no local de trabalho, nas imediações de casa. Para reconhecer o assédio é importante pensar primeiramente na conduta do assediador. O assédio:
Coloca a mulher em posição de subordinação, por exemplo, quando o ato ocorre em troca de ‘favores sexuais’, como notas na escola, ou cargos mais altos no trabalho.
Expõe a mulher à ridicularização. Isso ocorre, por exemplo, o assediador insulta a mulher ao receber uma negativa às suas investidas.
Faz uma ameaça direta à integridade da mulher. Exemplo: ‘caso você não faça o que eu quero, eu vou fazer o que bem entender com você’.
O que nos leva à pergunta: a conduta do assediador pode ser induzida pela roupa da mulher?
Não. Não importa como a mulher está vestida, ela nunca deve ser assediada. O assédio começa, muitas vezes, com uma agressão verbal, que pode vir a se tornar uma agressão física. Para que a mulher combata esse tipo de conduta, é necessário que ela reconheça quando está em situação de risco para que possa acionar as devidas medidas de proteção. Os recursos mais indicados são o 190, o posto policial mais próximo (caso a mulher esteja na rua), ou mesmo a delegacia para crimes contra a mulher.
Normatizar o vestuário não diz nada sobre a conduta da mulher
A mulher tem o direito de escolher o que quer vestir, sem que isso a exponha ao risco. A roupa é, muitas vezes, considerada o ‘causador’ de tamanho debate pelo fato de a mulher ser vista como provocante, ao escolher determinada peça de roupa no vestuário. No entanto, a objetificação do corpo da mulher brasileira, fala mais diretamente sobre essa relação entre a mulher, a roupa, e os pré-conceitos estabelecidos pela sociedade, do que a vestimenta em si.
A classificação da mulher pelo seu tipo de roupa leva a diminuição desta à sua imagem externa, e coloca rótulos que carregam pré-conceitos há muito já debatidos, como ‘vai vestir uma roupa decente’, ‘roupa para chamar homem’, ‘isso é roupa de mulher da vida’, ou uma ‘roupa de mulher sem classe’. Todas essas são representações de um machismo enraizado.
O rótulo não deve existir: nem na roupa, nem na mulher.
Adequar a roupa à ocasião na qual vai ser usada é algo que a indústria da moda explora há muito tempo – é o chamado ‘dress code’, ou seja, um ‘código’, de como se vestir, em uma determinada situação.
Mas, mesmo no mundo da moda, esses códigos são revisitados o tempo todo para melhor representar a mulher, o homem e os movimentos sociais, já que a Moda também é responsável por retratar o sentimento das gerações. Assim, não importa se a mulher vai usar vestidos ajustados ao corpo, decotes, saias com fendas: o que define a relação desta mulher com o seu próprio corpo, e em uma relação interpessoal, não o que ela está vestindo.
Quanto mais uma jovem, adolescente ou adulta, conhecer os seus direitos e como lidar com o seu corpo, e com as abordagens em relação ao sexo, mais ela vai desenvolver autonomia e segurança para estabelecer o seu espaço, e também os seus limites nas relações em sociedade. As roupas já têm os seus próprios rótulos, e um maior ou menor pedaço de tecido está muito longe de representar tudo o que uma mulher é por dentro, tampouco é um convite para o assédio.
Saiba que o vestuário não foi, não é, nunca será um convite formal ao sexo. Quem decide quando, com quem e qual o melhor momento para manter uma relação sexual é você, independente do que você está vestindo. Qualquer conduta que seja contrária ao seu consentimento é assédio, denuncie. Está em suas mãos. #ElaDecide.
Falar com filhos e filhas sobre sexo e sexualidade não estimula o sexo prematuro. Pelo contrário: a educação sexual ajuda no desenvolvimento sexual saudável de adolescentes
Ela se apresenta de maneira diferente para meninos e meninas, mas, para a maioria dos pais e mães, a chegada da puberdade vem igualmente cercada de algumas dúvidas e uma certa insegurança. Será que devo puxar uma conversa a respeito de sexo com minha filha ou espero que ela me pergunte alguma coisa? Se eu começar a falar sobre sexo com meu filho, estou estimulando uma prática sexual precoce? Essas e outras dúvidas refletem a apreensão e a dificuldade de muitos pais em lidar com o assunto.
Seja por meio da internet, televisão ou entre amigos e amigas, o fato é que adolescentes têm cada vez mais acesso a conteúdos sobre sexualidade e sexo e, independentemente da vontade da família, irão procurar informações que satisfaçam as próprias dúvidas e curiosidades. Portanto, o ideal é que mães e pais sejam a primeira fonte confiável a quem filhos e filhas recorram. Para isso, é necessário que estejam preparados para responder perguntas e tratem o tema com naturalidade.
A tarefa não é fácil. Dialogar com adolescentes exige habilidade e paciência, afinal, nesta fase da vida, eles e elas se fecham e deixam de compartilhar com os pais e as mães as experiências do dia a dia. Já não falam espontaneamente sobre o que aconteceu na escola ou quem são os novos amigos e amigas, por exemplo. Por isso, é muito importante que mães e pais busquem, desde a primeira infância, estabelecer uma relação de confiança com seus filhos, inclusive sobre a questão da sexualidade.
É claro que não existe um momento exato para familiarizar a criança com o assunto da sexualidade, cada um tem seu tempo. Mas sabe quando a criança de 3 ou 4 anos pergunta de onde ela veio, como um bebê é feito ou porque o corpo dela é diferente do corpo de um adulto? Eis aí uma oportunidade para acostumar a criança ao tema, sem que ela sinta que esteja falando de algo errado, sujo ou feio. Usar os nomes próprios dos órgãos genitais é um importante começo, pois do mesmo modo que é ensinado que o nome da cabeça é cabeça e que o do braço é braço, também pode-se ensinar o que é pênis ou vagina. Não é uma sugestão para que se introduza no universo da criança mais do que ela possa compreender; é uma maneira de habituar os filhos aos termos adequados, o que pode facilitar o diálogo a respeito de sexo quando for chegada a hora.
Por mais que alguns pais queiram retardar o momento de falar sobre sexo, é essencial transmitir aos jovens informações relativas a proteção, cuidado, higiene e intimidade. Explicar que o sexo é um ato humano e comum, que só deverá acontecer quando se sentirem preparados e preparadas, com a pessoa em quem confiem, de maneira segura e se prevenindo desde a primeira transa. Esclarecer que o corpo pertence a elas e a eles, e, portanto, suas vontades devem ser respeitadas e deve-se respeitar as vontades do parceiro ou parceira.
E tão importante quanto falar de sexo, é explicar sobre métodos contraceptivos, preservativos e relacionamentos abusivos. É se colocar como porto seguro para os filhos contarem se alguém cometeu algum tipo de violência contra eles. Sem uma comunicação honesta e respeitosa com seus filhos e filhas, eles não se sentirão seguros em falar com vocês quando estiverem passando por uma situação de abuso e violência. É por meio da informação que se pode colaborar para que adolescentes fiquem menos vulneráveis às gravidezes não planejadas, infecções sexualmente transmissíveis e violências sexuais, por exemplo.
Conversar sobre sexo e sexualidade não leva meninos e meninas à prática sexual. Uma vez que sintam que chegou o momento da primeira relação, elas e eles vão fazê-la, independente da vontade do pai ou da mãe. Deste modo, se estiverem bem informados e orientados, iniciarão a vida sexual de maneira saudável.
Dialogue com seus filhos e filhas. Vá além das suas próprias experiências. Leia. Informe-se.
O papel do homem na gestação vai além da concepção de um bebê e é fundamental para apoiar as mudanças vividas pela mulher.
Quando uma gravidez é anunciada, é normal que todas as atenções se voltem para a mãe. Afinal, é ela quem irá vivenciar, de uma só vez, as mudanças físicas e psicológicas significativas na sua vida. Mas gestação também é coisa de homem e a participação masculina na gravidez vai muito além do espermatozóide.
Na nossa cultura, ainda existe a ideia de que homens não precisam se envolver muito com a gestação. O pai acaba sendo colocado ou se colocando em segundo plano, quando deveria participar ativamente das transformações que acontecem com a mulher e com o próprio relacionamento durante a gestação.
No caso de muitas mães mais jovens, há ainda o medo de que o parceiro perca o interesse por ela. A ginecologista Carolina Ambrogini, em entrevista à Ela Decide, revelou: “O que às vezes acontece é que, com a gravidez e a chegada de um filho, há a deserotização do casal, que passa a viver em função da criança e se perde no papel de homem e mulher. Uma dica que dou, ainda mais quando os homens participam e é mais fácil falar abertamente sobre isso, é que eles mantenham a atividade sexual.”
Ainda que ocorra esse afastamento, é bom lembrar que ambos têm responsabilidade pela gestação iniciada. Ou seja, a participação do homem na gravidez faz a diferença. E isso pode acontecer de diversas formas, como:
Apoiar a mulher justamente no momento em que ela tende a estar mais sensível e passando por desconfortos físicos, demandas específicas daquela gravidez e tensões emocionais advindas dos desafios da gestação aliados às outras demandas da vida. Estar presente nas consultas e exames pré-natais, se informando sobre como ajudar a mãe a lidar com os desconfortos e mudanças da gestação.
Dividir responsabilidades, participando da divisão ou assumindo a maioria das tarefas domésticas. Assumindo também responsabilidades para a chegada do bebê, o que também proporciona à mãe mais tempo para cuidar de si mesma e retomar sua rotina com mais tranquilidade após a gestação.
Acompanhar as fases da gravidez de perto para criar um vínculo com a criança logo no início, o que naturalmente ajuda o pai a ser mais proativo nos cuidados com o bebê após o nascimento.
Incentivar os momentos a dois mesmo durante a gestação e sempre respeitando a vontade da mulher. Manter a intimidade do casal faz bem não apenas para a mãe e consequentemente para o bebê, mas também para o equilíbrio da relação. A dica é preservar seus momentos de intimidade sempre que eles virem dos dois lados.
Estimular a participação do homem na gravidez também é uma forma de evitar que exista um pai ausente na criação do filho. A falta de envolvimento desde o início da gestação nem sempre acontece por falta de interesse, mas porque o pai nem sempre sabe o quão importante é a sua presença nessa etapa.
Por outro lado, há homens que não estão mesmo dispostos a participar ou não assumem a paternidade. Infelizmente, este é um cenário bastante comum, que apenas será superado no longo prazo com mudanças culturais na sociedade.
Se o pai do seu bebê não participar, lembre-se que você não está sozinha! Tente criar uma rede de apoio, buscando o suporte da sua família, amigas e amigos. Procure também um grupo de apoio a gestantes próximo a sua casa – pode ser por meio de uma assistente social, psicóloga, ou um profissional do posto de saúde mais próximo. Há sempre uma boa forma de trocar experiências e informações interessantes com outras mães que estão passando pela mesma situação.
Independentemente da relação que você tem com o pai do bebê, desfrute da relação especial com esta nova vida. Cuide bem de si mesma, na gestação, e logo após o nascimento do bebê, busque o apoio necessário.
Hoje existem muitas formas de evitar uma gravidez não planejada, mas as opções de anticoncepcionais são tantas – e algumas pouco divulgadas – que ainda existem muitas dúvidas em torno dos métodos contraceptivos. Já ouviu falar que a pílula anticoncepcional causa infertilidade na mulher? Ou que o preservativo feminino é menos seguro que o masculino? São mitos sobre anticoncepcionais que acabam impedindo que tenhamos informações adequadas e uma vida sexual segura.
As mulheres adolescentes são as que mais têm chances de engravidar nas primeiras relações, seja pela falta de familiaridade com as formas de contracepção, seja pela falta de acesso a métodos contraceptivos, por medo que descubram que elas têm vida sexual ativa, entre outros inúmeros motivos.
Por isso, é direito de toda mulher ter acesso a informações, serviços, insumos e outras condições que lhe permita decidir de forma livre e informada quando engravidar. Também é seu direito poder escolher o melhor método contraceptivo para ela de forma saudável, consciente e sem achismos. Continuar lendo “Os mitos sobre métodos contraceptivos e como evitar uma gravidez”