Depois de já ter feito sem vontade várias vezes, decidi respeitar a minha vontade e isso me fez sentir muito bem e dona do meu corpo
Depoimento de A.R., 35 anos, dado a Gislene Ramos
Ano passado, conheci um rapaz em um barzinho, foi uma conversa interessante, rolou clima e combinamos de sair depois. No nosso primeiro encontro, ele passou pra me pegar em casa. Foi uma energia ótima. Conversamos bastante, boas risadas e senti que as coisas fluíram. Gostei. Ficamos e nos demos muito bem. Depois nos falamos algumas vezes e combinamos um segundo encontro em um restaurante. Pelo teor mais íntimo das nossas conversas, já estava entendido que iria rolar sexo. E eu estava bem afim!
Chegando o dia, ele foi me buscar e ainda no carro quando fui comprimentá-lo já não senti a mesma energia boa que havia sentido na primeira vez. Não sei explicar muito bem, mas parecia que naquele dia não tinha mais química. Essas coisas acontecem, né?
Então percebi que eu não estava mais afim de ficar com ele e, não tive dúvida, falei. Como a gente já conversava, me senti à vontade para falar a ele que havia mudado de ideia e que não estava afim de transar. Ele ainda tentou me convencer a continuar, mas eu não estava afim mesmo. Ficou na cara a insatisfação dele, mas eu não podia fazer nada, tinha que respeitar a minha vontade, né?
Ter feito isso me fez muito bem. É que eu já tinha passado por essa situações de topar sair e depois perder a vontade, mas nunca tinha tido coragem de dizer não. Na verdade eu não sabia dizer não. Saía com as pessoas e por medo de sei lá o que, eu me submetia mesmo não querendo.
Quando isso acontecia, eu me sentia péssima, querendo que terminasse logo e aquilo me machucava até nos dias seguintes. Mas na hora, eu achava que, poxa, o cara está aqui, se disponibilizou para estar comigo, mudar de ideia não me parecia certo. E também por medo de sofrer alguma agressão, de que ele não aceitasse.
Acho que isso acontecia porque eu tinha um complexo muito grande, achava que eu era inferior. Mas com o tempo, maturidade e muito autocuidado, percebi que sou muito mais que pré conceitos femininos ou de outro tipo. Percebi que não valia a pena me agredir pra tentar agradar a ninguém.
Então desta vez foi diferente. No meu pensamento, se eu transasse com ele percebendo que a energia não estava boa, me sentiria um objeto descartável. E por isso, decidi que não iria contrariar a minha vontade, nem me machucar para agradar ou não ferir o outro. Ele respondeu que entendia minha decisão, mas a expressão dele não era das melhores. Como ele estava de carro, me levou para casa.
Ele ainda me procurou algumas vezes, mas deixei claro que não queria mais e ele acabou desistindo.
No final de tudo, eu me senti muito bem, sem peso na consciência. Não me senti usada e a sensação foi incrível, libertadora. Percebi como posso ser dona das minhas escolhas e do meu próprio corpo.
Se ame antes de mais nada. Não maltrate seu corpo para alegrar outra pessoa. Corpo maltratado é sinônimo de mente machucada. Cicatrizes e feridas da alma doem muito mais que a do corpo físico.
Muitas vezes, ficamos confusas e nos sentimos culpadas. Mas é importante saber reconhecer o assédio e entender que a culpa nunca é da vítima
Historicamente nós mulheres somos educadas desde pequenas a acatar ordens e a sempre dizer “sim”. Com isso, muitas situações incômodas acabaram ficando naturalizadas e temos dificuldade em nos posicionar. Mas precisamos mudar isso e levar muito a sério tudo o que nos incomoda. Comentários chatos, paqueras indesejadas na rua, aproximação, toque ou beijo forçado, tudo isso é assédio!
“O problema é que é bem comum meninas e mulheres sofrerem assédio e nem conseguirem identificar o que viveram, justamente por não nos acharmos no direito de se sentir incomodadas com aquela situação”, explica a advogada Mariana Serrano, da Rede Feminista de Juristas (deFEMde).
Ela lembra que acontece também de nos sentirmos culpada, tendo pensamentos como: “Eu não deveria estar ali”, “Não era pra usar aquela roupa”, “Eu devia ter recusado o convite”. Mas é essencial saber: se algo foi feito sem sua permissão, a culpa nunca é sua!
Precisamos dar atenção ao incômodo que sentimos e, mais importante ainda, saber reconhecer o assédio e o que fazer quando acontece com a gente ou com alguma amiga nossa.
O que é assédio?
Você conhece a origem da palavra assédio? Ela vem de operações militares onde o plano era cercar um território para dominar o lugar e as pessoas. Uma tática de cercar para reprimir e exercer poder.
Não é à toa que essa palavra é usada para definir as situações em que nos sentimos cercadas, provocando medo e insegurança. O assédio pode acontecer de muitas formas: com palavras, olhares, contatos físicos e até pela internet! Em todas essas formas, ele viola a liberdade e acaba afetando nossa autoestima.
O problema é que, exatamente por poder acontecer de tantas formas diferentes, pode ser difícil identificar o assédio. Mas isso é muito importante para poder buscar ajuda e até denunciar o assediador.
Se você está na dúvida se algo que viveu foi ou não assédio, a imagem abaixo ajuda a entender.
Ao longo das duas próximas semanas, cards, vídeos e reportagens sobre temas sexo, escolha e consciência serão divulgados nas redes da campanha Ela Decide e da revista
A Revista AzMina produziu, em parceria com o Fundo de População da ONU, conteúdo sobre saúde sexual, reprodutiva e direitos voltados a jovens mulheres. Ao longo das próximas semanas, serão divulgados no site e redes sociais da revista e da campanha Ela Decide cards, vídeos e reportagens sobre temas como sexo, escolha, métodos contraceptivos, primeira relação sexual e assédio.
A campanha Ela Decide Seu Presente e Seu Futuro , por meio da qual a parceria está sendo realizada, desde 2018 busca sensibilizar jovens mulheres para a tomada de decisões autônomas sobre sexualidade e vida reprodutiva, trabalhando questões como o momento de engravidar (ou não), quando, com quem e quantos filhos ter ou não ter, como conhecer o próprio corpo e as diferentes vivências da maternidade.
A Revista AzMina é uma organização da sociedade civil jornalística que trabalha conteúdos voltados a direitos humanos, igualdade de gênero e saúde reprodutiva de mulheres. “O Fundo de População da ONU está orgulhoso desta parceria e acreditamos que levaremos ainda mais longe a mensagem da campanha Ela Decide, aumentando a conscientização de meninas sobre seus direitos de escolha e decisão nas questões que envolvem seus próprios corpos, assim como influenciam seu futuro e suas jornadas pessoais e profissionais”, afirma a representante do UNFPA, Astrid Bant.
O Fundo de População das Nações Unidas no Brasil lançou o podcast “Fala, UNFPA” que aborda temas como saúde sexual e reprodutiva, equidade de gênero, raça e etnia, população e desenvolvimento, juventude, cooperação entre países do hemisfério sul e assistência humanitária. Tudo isso, claro, a partir de uma perspectiva de direitos humanos. Saiba mais clicando aqui.
Para não esquecer: tudo bem escolher esperar, tudo bem escolher transar. Só você sabe o que é melhor para você!
Ilustração: Revista AzMina
*A campanha Ela Decide se uniu à Revista AzMina para produção de conteúdo exclusivo sobre saúde sexual e direitos. A partir de hoje você confere parte deles aqui e no site: azmina.com.br
Aposto que se você já teve a sua primeira transa vai ficar com o pensamento: porque eu não li essa lista antes?! Mas tudo bem, ela vale para muitas garotas e arriscaria até dizer que para as relações de quem não é mais virgem. Afinal, todas nós sentimos desejos e, infelizmente, esse assunto ainda é tabu, o que dificulta a conversa. Mas aqui não, vamos falar de sexo como o que ele é: algo natural!
A primeira transa envolve muitas questões além do desejo em si. Maturidade, autoconhecimento, entender o próprio corpo, a sensualidade e o seu erotismo. Além disso, é importante saber quais os cuidados devemos ter com nosso corpo. E sabe o que faz diferença em tudo isso? Ter informação confiável para poder fazer suas escolhas.
Então, vamos lá! Se liga nessas dicas básicas e necessárias que preparamos pra você com a ajuda da psicóloga e sexóloga, Cristiane Yokoyam.
Conheça seu corpo
Você conhece o seu corpo? Conversa com ele? Muitas garotas não têm o costume de se tocar, de conhecer cada partezinha do corpo de que é dona. É observando-o e sentindo-o que você percebe que ele não é mais infantil e passa a entender quais os seus desejos e as suas zonas de prazer.
Sim, estamos falando de masturbação! Não tenha vergonha. É o momento de você conhecer o seu erotismo e tirar prazer do próprio corpo. É algo super saudável, sabendo ter prazer consigo mesma, é mais tranquilo ter prazer com o outro. Daí você vai entender o quanto seu corpo está amadurecido e pronto para uma relação sexual.
Menstruar NÃO determina quando transar
É um grande mito dizer que ao entrar na fase da menstruação, automaticamente a garota está pronta para a primeira relação sexual. Não é assim! Tem muitas meninas que menstruam muito jovens, com 10 anos, por exemplo.
O início da vida sexual, tanto para a menina, quanto para o menino, não é algo somente hormonal. Os fatores emocionais também são muito importantes! O momento certo é quando você já está bem com seu corpo e se sente pronta para ter intimidade com outra pessoa.
Tenha consciência dos riscos
Ninguém precisa ter medo, não! Mas é importante saber que há alguns riscos envolvidos no sexo. Sim, estamos falando de gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis. O negócio para lidar com isso é ser consciente. Sabendo dos riscos, você pode preveni-los.
Responsabilidade consigo mesma
A pessoa com quem você mais deve se preocupar no sexo não é o outro e sim você mesma. E ser responsável com você passa por um monte de coisas: desde se informar para tomar os cuidados necessários para ter uma vida sexual saudável, até respeitar seus limites.
Além disso, a responsabilidade na cama passa pela vida fora dela. Um bom exemplo é com relação ao uso da pílula anticoncepcional. Muitas meninas começam a tomar, mas não têm a responsabilidade devida para tomar diariamente e da forma correta, e acabam esquecendo, o que deixa a pílula bem menos eficaz e aumenta os riscos.
Use camisinha!
Não tem essa de não querer usar preservativo! É algo extremamente necessário. Seja namoro, ficante ou amigo, a camisinha é peça fundamental em uma relação sexual. Se o garoto não quiser usar, você pode usar a camisinha feminina que é tão eficaz quanto a camisinha tradicional. Apesar de pouco conhecida, há pouca demanda, então não é difícil de encontrar, até em pontos de distribuição gratuita.
Lembrando que tomar pílula não acaba com a necessidade da camisinha, porque a pílula não previne doenças!
E sem esquecer quando rola aquele apelo emocional. Um papo do garoto de “Ah, se você quer mesmo ficar comigo…” ou “Se você me ama…”. Não caia nessa! Ame o seu corpo primeiro. Esse papo não tá com nada!
Se me ama, a prova de amor é o uso do preservativo. Se recusar a transar com preservativo é sinal de que esse cara não é a pessoa pra você, hein?! Provavelmente ele já fez isso ou faz isso com outras garotas. Não entre nessa furada e não coloque seu corpo em risco.
Não é para doer
Você já deve ter ouvido que “é normal” doer na primeira vez. Mas não. O sexo não pode ser algo doloroso, mesmo que a primeira vez. É um grande mito. Pode ser que se sinta um certo desconforto, mas não dor. Daí a importância de você estar bem preparada, conhecendo o seu corpo e sabendo que existe um hímen, que pode ser rompido, ou não, necessariamente.
A dor, muitas vezes, acontece quando não há uma lubrificação adequada – e às vezes é preciso tempo mesmo para que a vagina fique lubrificada. O importante é estar tranquila, sem pressa e respeitando o tempo do seu próprio corpo.
Claro que um pouco de nervosismo e ansiedade vão estar presentes. Daí uma saída é usar um lubrificante à base de água para ajudar. Mas tem que tirar esse mito de que a primeira vez que dói. O ato não é para ter dor, mas sim prazeroso! Inclusive, pode sangrar sim, mas isso também não é obrigatório, tá?
Todo mundo tem que gostar
Pode parecer óbvio, mas vale lembrar que o sexo deve ser prazeroso para todo mundo envolvido. Se está ruim, doendo ou desconfortável, não é obrigação sua continuar só para agradar a outra pessoa. Nesse momento, a parte de conhecer seu corpo é muito importante: assim você saberá dizer do que gosta e ajudar seu parceiro ou parceira a te proporcionar prazer também.
Sexo oral é sexo!
Pode ser que algum cara tente te convencer a fazer sexo oral “para não perder a virgindade”. Nessas horas é importante saber que sexo oral é sexo também. Tudo bem querer fazer, mas isso deve ser uma escolha sua.
Para quem contar?
A confidencialidade é uma escolha sua! Pode ser bom compartilhar um momento importante da sua vida, com uma amiga íntima, melhor amiga, sua mãe ou alguém em quem confia. É um sinal de que você tem pessoas que fazem parte da sua vida e que são importantes para você e é recíproco.
O importante é dividir isso com pessoas que sejam do seu círculo de confiança, com quem você tenha um vínculo positivo e saudável. E o melhor é que essa conversa, muitas vezes, pode até ser antes da relação sexual em si, e acaba servindo para você tirar dúvidas e compartilhar preocupações.
E se na hora eu não quiser mais?
Agora, atenção! Disse que queria e mudou de ideia? Perdeu a vontade? Ficou desconfortável? Sentiu dor? Pode parar, sim! A qualquer momento. É melhor parar e tentar outra hora e está tudo bem. Isso acontece e muito! Afinal, é a primeira vez. É normal estar um pouco nervosa e ansiosa. Para isso é importante que você tenha intimidade e confie na pessoa que estará com você, para que saiba entender e respeitar sua decisão.
Tudo bem transar, tudo bem esperar
Não entre na onda da pressão ou piada das outras pessoas. Você é a única pessoa capaz de dizer se está pronta, ou não. Vai ter gente dizendo que você devia transar logo ou que você devia se guardar. Mas a única opinião que conta nessa hora é a sua. Não faça ou deixe de fazer pelos outros.
Ter uma vida sexual ativa e saudável inclui o respeito ao próprio corpo, desejos e vontades. É muito importante pensar na prevenção ao decidir levar uma vida sexualmente ativa. “Ter uma vida sexual que dá felicidade para você e sua parceira ou seu parceiro, é também pensar em relações sexuais que tenham proteção” afirma Keka Bagno, feminista negra, assistente social e mestra em políticas públicas (UnB).
Keka, que atua na defesa de direitos seuxais e reprodutivos das mulheres, conta que além de escolher um local seguro, é importante fazer sexo com alguém que tenha empatia sexual, física e/ou sentimental. E que essa pessoa tenha também respeito aos métodos de segurança da sua saúde sexual.
A prevenção a Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) sempre será uma pauta importante. Não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo, posição política ou religião. A pessoa pode estar visivelmente bem, mas pode estar infectada por uma IST.
É muito importante que você esteja atenta, proteja a sua saúde. É também que disso sempre seja discutido com o parceiro ou parceira. É uma responsabilidade de ambos, todas e todos precisam se cuidar e a co-responsabilidade dos garotos, dos rapazes não deve ser deixada de lado. Então, se você está mantendo uma relação com um boy, fica a dica.
Você já deve ter ouvido e lido muito, mas repetir nunca é demais: a camisinha (preservativo) deve ser usada em todas as relações sexuais. Existem também outras ações de prevenção, redução de danos, diagnóstico e tratamento. E é sempre bom conhecer.
FIQUE LIGADA
O que são ISTs? As Infecções Sexualmente Transmissíveis, como o próprio nome já diz, são infecções, que podem inclusive gerar doenças, transmitidas por meio de relações sexuais. Podem ou não apresentar sintomas no seu corpitcho: coceiras, corrimento, verrugas, bolhas, feridas, ínguas. Por isso, fique esperta, se apresentar qualquer sintoma desse, procure o serviço de saúde o mais rápido possível.
Como se pega IST? Por meio de transa desprotegida, em qualquer formato, viu? Sexo oral, anal, vaginal. Na gravidez também pode ocorrer a transmissão para o bebê na gestação, parto ou na amamentação. Fique atenta!
Como agir em caso de suspeita de IST? Procurar o serviço de saúde para diagnosticar, orientar e realizar qualquer tratamento correto e comunicar seu parceiro ou parceira sexual.
O papilomavírus humano (HPV) é um grupo de vírus muito comum no mundo de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Oito em cada dez mulheres já contraíram ou irão contrair HPV em algum momento de suas vidas de acordo com a OMS. A prevenção se torna ainda mais indispensável pelo fato de que quase todos os casos de câncer do colo do útero podem ser atribuídos à infecção pelo HPV.
Existem duas classes de HPV de acordo com Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina. “Os de alto risco que aumentam o risco de câncer de colo e útero, esses não dão sintomas nenhum, são invisíveis. E os de baixo risco, que dão as verrugas genitais”, conta a médica ginecologista.
Pelo sexo oral também é possível contrair HPV segundo a Dra. Carolina. Pode infectar a garganta, se alojar em várias partes da boca e ser uma doença silenciosa. Por isso é muito importante sempre realizar exames e acompanhar sua saúde.
ATENÇÃO: existem várias outras ISTs como sífilis, herpes, hepatites, HIV, por exemplo, fiquem ligadas!
DICAS DE PREVENÇÃO
Conversamos com a ginecologista Dra. Carolina Ambrogini e ela deu algumas orientações e dicas para se cuidar na hora do prazer:
Camisinha sempre, gente! Do início ao final, não apenas na hora de gozar. E troque se for fazer sexo anal;
A camisinha pode ser retirada gratuitamente nas unidades de saúde;
Sempre garantir a higiene das mãos, unhas e genitais;
Se for usar acessórios sexuais, use camisinha e troque quando for utilizar na pessoa parceira;
No sexo oral vaginal, é recomendado o uso de filme plástico. Coloque-o sobre a sua vagina e o clítoris ou da sua parceira. Existe também a barreira de contenção, que seria uma camisinha cortada e aberta (estranho, mas é a recomendação até que inventem algo mais adequado);
Não use peças íntimas de outras pessoas, principalmente se tiver algum problema de saúde;
Conte sua orientação sexual na consulta no serviço de saúde, existe o sigilo médico-paciente, não precisa se preocupar;
Em caso de dúvidas, procurem profissionais de saúde especializados e especializadas. Cuidem-se garotas!
DIVERSIDADE AINDA DESLOCADA
Conversamos também com a Silvia Bandim, professora em Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (UnB) e ela contou que para mulheres lésbicas e bissexuais a saúde sexual ainda é bastante negligenciada. “Mulheres lésbicas têm menos acesso a exames preventivos, porque não são consideradas pessoas que fazem sexo, já que não existe biologicamente um pênis na relação”, conta Bandim.
“Até hoje não temos preservativos adequados a essas mulheres”, diz Bandim. Também falta informação sobre as ISTs que podem ser transmitidas nessas relações. “Lésbicas vão ao ginecologistas e ainda saem sem uma orientação adequada sobre como se prevenir”, explica a professora. Ela diz que existem poucas iniciativas de coletivos para tratar do assunto, mas ainda são insuficientes. Por isso a necessidade de pautar a diversidade nos debates sobre saúde sexual e reprodutiva nas políticas públicas para que toda forma de amor esteja contemplada.
Na maioria das casas, o tema sexo não é abordado. E quando é, por vezes, os únicos focos dados são doença e gravidez, não é verdade? Dialogar sobre o corpo e sexo como algo natural da vida é um desafio em muitas famílias, mas é fundamental conversar, principalmente quando o papo é a primeira transa.
Começar a transar ainda é um processo com amarras e rende muitas dúvidas.
Ana Paula Penante (pesquisadora sobre direitos sexuais e sexualidades de crianças e adolescente)
Isso é o que acredita Ana Paula Penante, assistente social e pesquisadora sobre direitos sexuais e sexualidades de crianças e adolescentes na Universidade de Brasília (UnB). Medo, regras, culpa e falta de informação tomam conta desse tema, “principalmente porque nós temos uma visão da sexualidade ainda muito restrita ao ato sexual, ao corpo a corpo com outra pessoa”, explica Ana Paula Penante.
“Sexo é muito mais que penetração”, afirma Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina. A médica chama atenção para se entenda que o corpo humano permite múltiplas possibilidades de conseguir prazer que vão muito além do estímulo de genitais. Carícias, massagens, tantra também são formas de estímulo físico e ainda fantasias, jogos, comunicação entre parceirxs são formas de obter prazer através da imaginação. Qualquer maneira que você e sua (seu) parceira (o) encontrar de sentir prazer é válida e só diz respeito a vocês. Desde que respeitem os limites um do outro e haja consentimento.
Mitos, cuidados e alertas
Não existe uma exigência para transar antes ou depois de uma determinada idade, mas é fundamental existir orientação e consciência sobre o que é esse momento de passagem da vida.A hora certa para iniciar é quando você se sentir à vontade e quando você conhecer o seu corpo.
Sabemos que sempre bate um turbilhão de dúvidas quando o assunto é transar pela primeira vez. Mas reunimos algumas dicas das especialistas Ana Penante e Carolina Ambrogini para ajudar:
Carolina Ambrogini (ginecologista)
Entender sobre o funcionamento do seu corpo é super importante. Isso faz você ficar mais certa das suas escolhas e ajuda a aproveitar melhor a relação sexual. Se masturbar não tira a virgindade, viu? #ficadica
Consulte um(a) ginecologista de confiança: essa pessoa vai te ajudar a entender melhor o seu corpo e certificar-se se está tudo bem, antes e depois da primeira vez, em qualquer momento, sério mesmo.
Converse com o/a parceira/o: seja um relacionamento estável ou não, é legal bater um papo sobre o que vocês dois ou duas esperam daquele momento;
É essencial pensar na proteção contra Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Camisinha sempre, viu?
Primeira vez pode engravidar, ok?! Em relações heterossexuais, vários casais não se previnem na primeira transa com penetração e acabam tendo uma gravidez inesperada.
Mulher goza também! Sempre buscar estar relaxada, confortável e confiante com a situação. São várias condições físicas e psicológicas durante a relação, com penetração ou não, sozinhas ou não, que farão você chegar ao orgasmo.
Sobre a info que a primeira transa dói: o nível de dor varia de pessoa para pessoa. Às vezes pode nem acontecer de doer, o importante é vocês estarem confortáveis
Não tenha pressa: respeite seu tempo. Esteja à vontade para iniciar sua vida sexual ou para adiar esse início! É muito importante perceber seu corpo e ter consciência de suas escolhas. Você decide.
Seja em casa, no trabalho, escola, faculdade, na rua, no transporte público ou na internet, o assédio sexual insiste em marcar presença. Infelizmente, da infância e adolescência à vida adulta, as mulheres são perseguidas pelo fiu-fiu e por comportamentos abusivos e constrangedores o tempo todo. É preciso estar atenta mana, isso é violência. É assédio.
As mulheres mais jovens são as que mais sofrem assédio. Das manas com idade entre 16 e 24 anos, 66,1% afirmaram já terem sofrido algum tipo de situaçãoindesejada de característica sexual em 2019. Esses dados são da pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil” do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Instituto Datafolha.
É nítida a diferença entre elogio e assédio. “Se uma pessoa está andando na rua e ouve um assovio ou um “ô, gostosa!”, isso não é elogio” diz Keka Bagno, feminista negra, assistente social e mestra em políticas públicas pela Universidade de Brasília (UnB). Keka, que atua no enfrentamento à violência sexual contra crianças, adolescentes e mulheres, conta que é fundamental analisar toda e qualquer situação de incômodo. Ela orienta algumas perguntas a serem feitas para diferenciar assédio de elogio. É preciso sempre refletir:
Esse elogio foi prazeroso?
Qual é o tom do elogio que você está recebendo?
É sempre no sentido sexual?
Qual sentimento causou?
É de fato um elogio?
Você se sentiu assediada?
Segundo Keka, se o que você ouviu consegue enaltecer de outras formas, não te agredindo e não falando só do seu corpo, talvez a fala possa ser realmente um elogio, mas é preciso estar ligada. Só quem pode dizer o que é ou não elogio é a mulher que recebeu o comentário, diz a assistente social.
“Os homens acreditam que é um direito deles avaliar as mulheres física e moralmente”, complementa Valeska Maria Zanello, professora e especialista sobre assédio contra as mulheres pela Universidade de Brasília (UnB). “A lógica que é problemática. A gente vê a evidência disso quando o elogio inverso não acontece. E não quer dizer que as mulheres não julgam, não pensem, não desejem”, explica a professora. “Saber quando se tem uma abertura e o mínimo de intimidade para um elogio são pontos importantes, mas os homens não pensam nisso”, diz.
Sinais de assédio O assédio sexual não está somente na forma física, mas também na forma verbal e pode causar danos psicológicos. Conforme explicou Keka Bagno, se traz o sentimento de vergonha e culpa sobre seu próprio corpo, é sinal que o assédio está acontecendo. Ela também explicou como identificar o assédio:
Tudo que desrespeita seu corpo ou a sua moral;
Falas ou comportamentos que sexualizem seu corpo por alguém que você não conheça (ou mesmo que conheça, mas que venha de maneira invasiva);
Tudo que causa incômodo. Que Faz você se sentir invadida.
Manas negras são mais assediadas
É importante também falar sobre quais são as mulheres que mais são assediadas.
Valeska Zanello e Keka Bagno afirmam que as manas negras são historicamente tratadas como objetos sexuais. Além do machismo, o racismo também se apresenta forte na estrutura desse conjunto de violências contra a mulher.
A pesquisa Visível e Invisível, sobre violência de gênero, observou que as mulheres que se autodeclararam pretas afirmaram ter sofrido mais assédio (40,5%) em comparação com as mulheres brancas (34,9%). Essa diferença é um pouco menor em relação ao que foi reportado na pesquisa de 2017, quando essa proporção foi de 47,5% contra 34,9%, respectivamente, mas ainda assim mostrando para maior vulnerabilidade das mulheres negras aos eventos de assédio.
Garotas, é muito importante estarem atentas contra qualquer tentativa de perseguição, insistência, sugestão ou pretensão que desrespeite o seu corpo ou o de outra pessoa. O assédio sexual não é paquera, muito menos elogio.
O que fazer em uma situação de assédio?
Ouvir e entender a vítima, escuta ativa sem nenhuma lógica de culpá-la;
Não achar que é “mimimi”;
Procurar serviços públicos que possam atender a vítima da melhor maneira possível (centros de atendimento a mulheres, delegacias, Polícia Militar, Centro de assistência social e centros de saúde que também tem políticas de atendimento para as mulheres)
Sempre denúnciar quando você for violentada: Ligue 180 ou Disque 100, caso precise de uma intervenção no momento que acontecer, ligue para a Polícia Militar no número 190.
Tocar e conhecer o próprio corpo ainda está no paredão dos tabus. Infelizmente a sensação de culpa e julgamento insistem em perseguir o prazer das mulheres, ainda o machismo constrói a ideia de que nós nos tocarmos é um problema. Por isso, e outras tretas, que é muito importante se conhecer e compreender que esse corpitcho só tem uma dona: você mesma.
“Temos tido a oportunidade de falar sobre masturbação, as redes sociais têm abordado e existe uma onda feminista que defende muito o empoderamento feminino, o conhecimento do próprio corpo e a sexualidade, mas as mulheres ainda trazem bloqueios com relação ao próprio corpo”, nos conta Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina.
Dra. Giani Cezimbra, ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva
O privilégios da liberdade sexual dos homens ainda é muito grande e desrespeita o espaço das garotas, sobretudo o território de seus corpos. A Dra. Giani Cezimbra, também ginecologista especialista em saúde sexual e reprodutiva nos conta que “tanto a masturbação feminina, quanto a descoberta do funcionamento do próprio corpo, a capacidade em obter prazer e orgasmo sem a presença de outra pessoa são rodeadas de muitos preconceitos culturais e religiosos”, afirma.
“Masturbação ainda é um tema abordado com muitos pudores”, diz a ginecologista Giani Cezimbra. Ela afirma que “é importante que [as mulheres] conheçam seus corpos e possam vivenciar sua sexualidade de uma forma plena e satisfatória”.
Não tem jeito: só cuida de si quem se conhece e convenhamos que autoconhecimento é tudo. Estimular o corpo, sentir prazer e toda essa autonomia é fundamental e possui uma série de benefícios, de acordo com a ginecologista Carolina Ambrogini:
Reduz estresse e ansiedade;
Melhora o sono;
Pode diminuir cólicas;
Aumenta o desempenho sexual;
Ajuda a atingir o orgasmo mais facilmente;
Queima calorias;
Dra. Carolina Ambrogini, ginecologista especializada em sexualidade feminina
Mas para isso tudo ser concebido, é essencial se sentir tranquila e à vontade para se tocar. De nada vale se tocar e não sentir prazer. Autoconfiança e coragem tornam-se importantes para realizar esse carinho consigo. Porém, a formulação de fantasias sexuais é fundante. “Se você não pensa em algo erótico, que estímulo você terá para se tocar?”, questiona Carolina Ambrogini. Estamos falando sobre cuidar do físico e da mente.
Algumas perguntinhas orientadas pela Dra. Carolina Ambrogini para montar seu repertório sexual, tão importantes quanto se tocar:
O que eu gosto sexualmente na cama?
Quais são minhas fantasias?
Como me sinto excitada? Como é essa busca?
Como meu corpo responde aos meus estímulos?
Como anda minha autoestima?
Converse, tire duvidas, puxe este assunto com suas amigas. É natural, é íntimo e libertador. É sobre você e seu corpo. É sobre se agradar, se sentir amada. Prazer também é isso, para senti-lo com outra pessoa é muito importante essa individualidade.
E vale mencionar que apesar da indústria pornô muitas vezes ser a principal fonte de “educação sexual” das pessoas e estar relacionada a masturbação, lembre-se que esse mercado muitas vezes reforça estereótipos da mulher a serviço do sexismo… e não é sobre isso que estamos falando, beleza? Fique atenta.
“Mulher empoderada e autoconfiante não aceita violências e imposições sociais baseadas em crenças negativas e nocivas. Sua decisão é baseada no que ela acredita que seja melhor para ela mesma”, conta a ginecologista Giani Cezimbra. Se toquem, pratiquem amor próprio. Prazer é fundamental e também está em suas mãos.
Nossas casas deveriam ser os lugares mais seguro neste período de isolamento social contra a Covid-19, não é mesmo? Mas não é o que acontece quando a violência também pode estar confinada no mesmo lugar em que a gente mora. O crescimento das denúncias de violência doméstica contra meninas e mulheres no Brasil durante a pandemia preocupa e mais uma vez chama atenção para cuidarmos desse assunto com mais seriedade e atenção.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) informou que aumentou em 9% no número de ligações para a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, o Ligue 180. “A média diária entre os dias 1 e 16 de março foi de 3.045 ligações recebidas e 829 denúncias registradas, contra 3.303 ligações recebidas e 978 denúncias registradas entre 17 e 25 em março”, afirmou a ouvidoria do MMFDH. Isso significa mais agressões e resulta em maior risco de feminicídios.
O desgaste na convivência, muitas vezes somado pelo estresse, junto com toda estrutura do machismo, influencia no aumento da violência, afirma Bruna Pereira, doutora em sociologia e especialista em gênero e raça. “Como as relações de gênero são desiguais, há uma tendência de agressão de homens contra as mulheres, mas nenhuma situação de violência pode ser legitimada por isso”, afirma a especialista.
Natália Maria, antropóloga, pesquisadora e ativista em temas de saúde, direitos, bioética e acessibilidade explica que em uma sociedade com grandes exclusão sociais, as casas são marcadas por várias faltas sociais profundas. “Na lógica de confinamento, sabendo que muitas pessoas não entram nela, infelizmente teremos lares que são marcados pela desigualdade e violência de gênero”.
CENÁRIO PERIGOSO
Os impactos infelizes da violência sobre a saúde física, sexual, reprodutiva e mental das mulheres segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS):
Vítimas que sofrem abuso físico ou sexual têm duas vezes mais chances de fazer um aborto, e a experiência quasedobra sua probabilidade de cair em depressão;
Em algumas regiões, elas têm 1,5 vez mais chances de adquirir HIV, e existem evidências de que mulheres agredidas sexualmente têm 2,3 vezes mais chances de ter distúrbios com álcool;
Mais de 87 mil mulheres foram intencionalmente assassinadas em 2017 e mais da metade foi morta por parceiros íntimos e familiares;
“Se antes as mulheres podiam sair e ir pra casa da vizinha quando a tensão aumentava, agora elas estão obrigadas a ficar em casa e isso tende a gerar maior desgaste”, diz a socióloga Bruna.
O isolamento é utilizado por agressores como uma maneira de controle psicológico, para ampliar e manter o poder deles sobre elas, explica Bruna. Com o menor contato da vítima com seus amigos e familiares, reduz as possibilidades dessa mulher a se defender, sair de uma situação de violência, criar uma rede de apoio e buscar ajuda.
Denunciar.Este é o primeiro passo sobre qualquer suspeita ou confirmação de violência, tanto as mulheres vítimas quanto testemunhas possuem essa opção, ok? É importante meter a colher sim em qualquer situação que vida e dignidade das mulheres correm perigo.
Conversando com Bruna, que estuda sobre violência doméstica, ela orientou algumas medidas a serem tomadas e também temos algumas guias:
Quando a violência estiver acontecendo, é fundamental acionar a polícia no número 190; Agir no momento de conflito pode salvar a vida de uma mulher, mas cuidado também para não se expor, as denúncias podem ser anônimas;
Quando a mulher tem acesso ao telefone, com espaço para usar o telefone longe do agressor, existe a possibilidade de ligar para o 180, que fornece orientações e encaminha a situação para a polícia, mas essa não é uma ação imediata.
Procurar de preferência as delegacias de atendimento especial às mulheres para atendimento especializado. A nomenclatura pode mudar de estado para estados, porém todas recebem estas denúncias.
Em alguns Estados a Defensoria Pública disponibilizou números de Whatsapp a disposição para pedir medidas protetivas ou ações relacionadas;
Alguns estados possuem a patrulha da Lei Maria da Penha funcionando. No Rio de Janeiro, por exemplo, está vigente o regime de plantão judiciário.
Existem também os aplicativos e sites de combate a violência de gênero. Não servem para fazer direto uma denúncia, mas informam, criam redes de proteção para agir.
O app PenhaS que dá informações sobre delegacias, permite que as mulheres conversem de maneira anônima com pessoas que poderão ajudá-las. E também possui uma função de gravar sons para criar provas, além de uma função de pânico para acionar contatos de confiança para urgências.
Outro app é o Mete a colher, que fornece apoio psicológico e jurídico para vítimas.
Mulheres que vivem em comunidades podem criar códigos de aviso na vizinhança entre mulheres e homens ou lideranças locais para denunciar e constranger agressões;
O coletivo Todas Fridas desenvolveram com a SaferNet o projeto Todas Acolhem, que ajuda a reconhecer, denunciar, apoiar as vítimas e buscar ajuda.
Recentemente o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também anunciou o app Direitos Humanos Brasil para denúncias diretas contra violências.
“Todos os tipos de violência precisam ser comunicados, explicados para as mulheres e homens”, orienta a sociologa Bruna. E ela insiste: é fundamental uma ação de educação nesse sentido e também de investimento em equipamentos públicos de apoio às mulheres.
Uma vez na internet, as imagens saem do seu controle. “Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia“
Em tempos de pandemia, enquanto não podemos sair para encontrar o crush ou a crush, trocar uns nudes ou fazer umas vídeos chamadas mais sensuais às vezes pode rolar, né, minha filha? O nome dessa prática de compartilhar conteúdos sexuais com outra pessoas pela internet se chama sexting. Mas, é preciso informação e muito cuidado. Não faça nada por pressão, para estar na moda ou porque o ou a crush estão insistindo.
Um nudezinho aqui e outro ali está cada vez mais comum por conta da difusão de tecnologias de comunicação e também tem se tornando um comportamento social. “Muitas pessoas usam nudes como forma de estabelecer contato com possíveis parceiros afetivo ou sexuais, e a linguagem da internet é uma linguagem audiovisual. As pessoas só estão se adaptando a esses formatos”, conta Nealla Machado, pesquisadora sobre sexting e violência contra as mulheres.
Os smartphones possibilitam essa nova maneira de expressar a sexualidade. O “nude selfie” e práticas relacionadas fazem parte dessa nova cultura. Para muitas pessoas essa prática vira até prova de cumplicidade e intimidade com o parceiro ou parceira. Entretanto, é fundamental realizar boas escolhas para evitar arrependimentos e situações de perigo quando pessoas mal intencionadas se aproveitam dessas imagens. Tenha muito cuidado!
Em uma sociedade marcada por desigualdades, muitas mulheres ficam prejudicadas nessa história toda, ameaçadas e até extorquidas, aí o sexting vira um problema. Isto é o que acredita Cybelle Oliveira, uma das organizadoras da Cryptorave, um dos maiores eventos de criptografia, segurança e hacking que existe.
“Não existe nada 100% seguro em termos de tecnologia, existem alguns programas e aplicativos que podem minimizar os riscos da divulgação de nudes sem consentimento na internet” diz Cybelle, “100% seguro é simplesmente não mandar”, afirma.
Ameaças e divulgação de fotos íntimas pela internet sem autorização é crime e é um transtorno complexo a ser enfrentado. Antes de enviar qualquer coisa, precisamos refletir sobre nossas ações e sempre avaliar bem nossos comportamentos na rede para não passarmos por situações ruins envolvendo esse tipo de exposição.
“Naquele momento você tem confiança na pessoa, mas e depois? Será que a outra pessoa tem maturidade e respeito suficiente para realizar essa troca tão íntima com você?”, questiona Cybelle.
O risco da produção desse tipo de conteúdo é que uma vez na internet, essas imagens saem de controle, é o que afirma a pesquisadora sobre o assunto, Nealla Machado. “Elas podem se espalhar em grupos de redes sociais, sites pornográficos, e-mails, fóruns, podem parar em absolutamente todo o lugar. E uma vez na internet, para sempre na internet”, conta Nealla.
Nealla explica que por conta da nossa sociedade machista e misógina, as mulheres não podem e nem conseguem expressar sua sexualidade sem sofrerem sérias represálias. “O vazamento das nudes é um meio de violência contra as mulheres, pois as que sofrem com essas agressões tem que mudar totalmente de vida, deixam de estudar, trabalhar, às vezes trocam de cidade, estado, país”, diz.
Para as jovens, a pesquisadora conta que tudo fica mais difícil, pois muitas vezes elas não têm condições financeiras, físicas e psicológicas de passar por esse tipo de agressão na internet. Existem até casos de suicídio por conta da depressão e da vergonha, revela Nealla. “Por isso a necessidade de conscientização de jovens e adultos sobre os usos da internet e segurança na rede, como também as questões de gênero”, acredita.
Atenção!
Nealla explica que muitos especialistas aconselham não registrar esse tipo de conteúdo, mas se for fazer algumas precauções e orientações:
Não tirar fotos do rosto ou de marcas que podem te identificar, como tatuagens;
Evitar também ambientes que possam identificar você no mesmo local por outras fotos;
Deixar as imagens guardadas em pastas com senha ou criptografadas no celular;
Cuidado com os links estranhos;
Quando enviar nudes ou vídeos íntimos, utilizar aplicativos que deletam a foto depois de alguns segundos e que avisam se foi registrado print da tela;
E somente enviar para pessoas de confiança.
O que fazer e como ajudar mulheres vítimas ou ameaçadas de exposição?
O principal é não sentir vergonha, está acontecendo um crime, existe uma vítima e a sexualidade é parte completamente natural da vida humana. Mas vamos às orientações da especialista:
Primeira coisa é não julgar as mulheres e não repassar as nudes que recebemos, isso é um exercício de solidariedade;
Para as vítimas, a primeira coisa é conseguir registrar provas materiais de que está sendo ameaçada ou sofrendo extorsão, então tirar prints de conversas e várias telas, e imprimir esses prints;
Se ocorrem ameaças por meio de ligações ou outras formas, gravar e registrar essas formas;
Depois, ir até a delegacia de crimes digitais mais próxima e fazer o boletim de ocorrência, para que se iniciem as investigações. Caso não exista uma delegacia específica em sua cidade, as delegacias tradicionais podem investigar.
Sites e redes sociais são obrigados a tirar esse tipo de conteúdo, então denunciar o conteúdo o quanto antes e se possível pedir para outras pessoas fazerem o mesmo.
A Safernet tem um canal de comunicação com mais dicas e lugares de denúncia também: https://new.safernet.org.br/.